segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

O príncipe encantado...


A gente cresce assistindo a desenhos animados, contos de fadas, com sapos que viram princípes, mendigos que viram príncipes, feras que viram príncipes, se bobear até pedra tá virando principe só para fazer a felicidade das mocinhas de plantão. Ingênuas, somos levadas a acreditar que animais, insetos e objetos inanimados, transformam-se naquela figura máxima do amor romântico: o príncipe encantado.

A mocinha está feliz e despreocupada, normalmente cantarolando nas florestas, lendo nos vilarejos, cozinhando e estudando, nenhum membro da realeza povoa seus sonhos. E então deus ex machina entra em ação(ou diabo ex machina nesse caso), a mocinha é jurada de morte, envenenada por uma maçã, atormentada por irmãs postiças, ou ainda cai em sono eterno. Oh! e agora que fazer? E eis que do horizonte surge um jovem bonito e galante, montado em um cavalo branco, e com um beijo do amor eterno salva a pobre e indefesa vítima de  sua triste sina, e juntos cavalgam ou voam rumo ao infinito do happily ever after! 

Porém o que esquecem de nos contar é que fora das telas a história tem outro sentido, por experiência própria sei que é assim:

Eis que surge o príncipe encantado, feliz e sorridente a mocinha se perfuma, se pinta, sobe num salto alto e vira frequentadora assídua do depilador. Juntos cavalgam no cavalo branco rumo ao felizes para sempre!

- E agora, o filme acabou?

- Não.

No caminho daquele sol no fim da estrada dourada (o felizes para sempre) o príncipe vira fera, vira sapo, vira até mendigo e a gente começa a desejar que vire pedra. A vítima, ingênua mocinha de outrora, vê as maçãs vermelhas derreterem em venenos eternos, o surgimento das rivais (vulgo irmãs postiças). Na espera de que o sapo volte a ser príncipe cai em sono eterno. A pobre sofre, come o pão que o diabo amassou, não entende a vida pós-final feliz... 

Olha pela janela da sua prisão do felizes para sempre: os jardins, os pássaros, as maçãs vermelhas, os tapetes encantados, as bibliotecas... A heroína (que já fora mocinha e virou vítima) coloca então sua capa vermelha e sai cantarolando à procura do lobo-mau, príncipe nunca mais!



quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Sobre como esvaziar armários...

 O último mês... Bem que a canção diz que "amanhã já é janeiro para quem partiu em agosto" imagina pra quem partiu em setembro?

Tanto já aconteceu desde que aqui cheguei... 

Foi com o coração apertado que pisei os pés nessa terra, medo de seguir em frente e trilhar o caminho que me separava de seres queridos... Medo de saber o que me espera, e medo de não saber absolutamente nada... 

Paralisada fiquei, o corpo aqui, o coração lá. Eu que sempre adorei esvaziar armários e livrar-me do que me abarrota, agora abraçava agora o mesmo armário, assustada, estava cheio de coisas lindas e caras, mas de que serviriam em um clima tão diferente... 

Não! Me recusava a abrir a porta, com medo de que algo caísse, caminhava assim arrastando um item tão pesado e com pouca utilidade, me sugeriam abrir espaço para os novos itens que chegavam. Me diziam que não cabia tudo, e eu afirmava que eu dava um jeito, meu armário é igual a mala de Mary Poppins!

Mas eis que o clima muda, chuvas vem, sóis se põem, e tudo que é madeira eventualmente estraga... Agora tão pesado, ele começa a se desmontar, olho para trás e vejo que uma porta ficou pelo meio do caminho, em seguida outra... 

Posso ver seu interior, objetos velhos, puras recordações às quais nos apegamos com medo de construirmos outras, lado a lado com os novos objetos adquiridos nessas novas andanças... Olho para frente e vejo quão longo é o caminho, olho para os meus itens de recordação, algo tem que ficar para trás ou ficarei eu!

Começo então a redescobrir o prazer de armários vazios, cheio de espaço e aquela vontade gostosa de preenche-lo com tantas outras coisas, que pode até ser que fiquem pelo caminho logo ali na frente, mas a graça é adquiri-las! Reorganizo-o, parafuso as portas de volta, empilho tudo aquilo que é velho, usado e empoeirado. O caminho agora é tão mais leve...

"A gente ri, a gente chora e joga fora o que passou
a gente ri a gente chora e comemora o novo amor..." 



quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Sobre profetas, madalenas e caretas

Sei que devemos fugir de temas polêmicos… Deveria me ater àquilo que não sei, falar de amores e autodescobertas, do que ousar falar daquilo que sei menos ainda... Mas às vezes não posso me controlar...

Apesar de ser anti-religião, como qualquer boa moça pequeno burguesa nascida na Bahia tive contato com ela... Fui batizada, assisti a casamentos, fiz primeira comunhão, vi missas de sétimo dia... Sempre me perguntei sobre ele, ou seria ELE? Sim, aquele mesmo que nasceu sem pai biológico e troca de fluidos, que desafiou as leis da gravidade e do bom senso.

Sim, ele me parece ter sido no mínimo um cara legal.

E vejo o que dizem por aí em nome DeLe, pregam que alguns coitados desafiadores de uma certa moral (que não se sabe de onde vem nem para onde vai) não serão salvos (de que, também não se sabe) são filhos do belzebu aqueles que aderiram ao látex, que utilizaram hormônios artificiais e acima de tudo que ousaram amar no mais completo sentido da palavra seu verdadeiro semelhante.

O que me dói é que ele era sim um cara legal. Dizem que vai voltar... Me pergunto como, voltaria defendendo alguma moral? Gritando nas ruas com um pequeno livro preto embaixo dos braços? Crucificando outros que assim como ele desafiam as regras de seu tempo?

Engraçado que para mim talvez ele tenha sido o primeiro vanguardista, naquele sentido mesmo de estar um passo a frente de sua geração. Moderno, negou-se a seguir as regras e ao invés de apedrejar, abraçou aquela que estava em desacordo com a moral. Dizia atirem a primeira pedra aquele que não pecou, e não ele também não atirou, porque será? Fez amizade com criaturas do submundo, convidada todos a segui-lo, todos de mente aberta.

Foi a vaca profana que pôs os cornos pra fora e acima da manada, recusando a pastar a grama que lhe davam, e gritou: o leite mau na cara dos caretas. Se alguém não teve vez em seus discursos foram eles, os caretas que não entendiam sua proposta, que cegos pela moral a seguiam sem questionar. Vislumbro ele hoje, cabelos longos, chinelos de couro, bandeira colorida no braço defendendo as novas criaturas apedrejadas. Ele trouxe o pensar, o questionamento, perguntou porque apedrejar essa pessoa, se seguindo ao pé da letra todos nós merecemos uma pedrada vez ou outra? Pregou um mundo livre de julgamentos, amemos os semelhantes, dizia.

Agora a manada grita uníssona contra todos aqueles que ousam por os cornos pra fora. Mastigam o que lhes é dado sem questionar, esperando encontrar uma salvação (talvez deles mesmos, talvez do pasto e da manada).

Mas talvez esteja errada, ele, sendo o cara legal que foi, no máximo diria gotas de leite bom na minha cara, chuva do mesmo bom sobre os caretas...






sem mágoas estamos aí...

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

A dança da cadeira

Outrora (tenho repetido essa palavra muito por aqui) me prometi nunca mais me importar com isso, tornar-me-ia auto-suficiente (afinal eu deveria me bastar). Maldisse amores, bemdisse a solidão. Pendurei as chuteiras e me prometi parar de buscar, afinal quem não procura acha.

Mas eis que me pergunto: e quando a música parar será que serei eu a ficar em pé?

Me disseram que em pé só fico se quiser, afinal sempre tem um banquinho num canto escuro que busca alguém que sente nele. Mas logo penso que minhas costas não suportariam muito tempo um banquinho, e que preferível seria uma cadeira ou até uma poltrona. Não seja exigente! Me dizem, vc compra uma almofada e encosta na parede! Querendo poltrona não vai sentar é nunca!

Sempre quis tudo, e nunca me contentei com alguma coisa apenas. Me disseram que era medo da realidade, até a disney já culparam... E agora fico aí ouvindo a música tocar temendo dança-la a fundo e terminar sem poltrona, sem cadeira, sentada em um banquinho num canto escuro. Já disse preferir ficar em pé, mas convenhamos quem aguenta tanto tempo em pé não é? Sem música, sem dança, sem cadeira sem nada?

Eis que a música para, as poltronas foram tomadas, as cadeiras também... Sobrou para mim o banquinho, me entregam, dizem: senta querida, afinal ficar em pé não dá... Olho para ele, olho para os demais, acomodados alguns em poltronas, outros em meros tamboretes... Sento, não sento? Me oferecem uma almofada... Olho para todos os lados, não vejo nada... Olho para mim... E eis que encontro o Iphone em meu bolso, toda a playlist está lá, coloco os phones de ouvido, aperto o play...

O medo se foi, afinal a música só para quando eu quiser...

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

O passo...


Sempre me vangloriei de ser uma pessoa sem amarras, de não ser daqui, de não ter amor, de não ser nem da Bahia de São Salvador... Desbravadora dos quatro cantos do mundo, andarilha urbana, metamorfose ambulante...

De repente me vejo aqui, longe, milhas e milhas de distância me afastam da Marcelle que fui e me permitem ser quem eu quiser. Tenho diante de mim a estrada de tijolos amarelos, levo comigo os sapatinhos vermelhos, o coração, a coragem e o cérebro.

Mas não consigo percorrer o caminho que tanto busquei. Olho para essa estrada sem fim, a coragem me foge, o coração acelera e o cérebro derrete. Não ouso nem olhar para frente, nos pés os sapatinhos vermelhos, basta a vontade para voltar para casa, dar o passo para trás... Vontade essa que me falta. Lá onde não ouso olhar pode estar a salvação ou a perdição, pode estar o tudo, o nada ou o alguma coisa... Levanto o pé esquerdo, não consigo caminhar! Ora, mas o caminho é claro, é brilhante, dourado!

Atrás de mim? O nada! Olho para trás, estaria esquecendo algo? Não, se trouxe comigo o cérebro, a coragem e o coração que mais posso precisar? Penso eu. Talvez tenha começado com o pé esquerdo... troco pelo direito... nada de novo... Começo a me sentir um pouco absurda, ficarei ali presa no limite entre o que fui e o que quero ser? Tornarei-me uma personagem beckettiana? Amarrando os sapatos e me lamentando: -Nada a fazer...

Virá em breve o mensageiro me dizer para esperar que amanhã algo irá mudar? No meio da estrada a única coisa que pode mudar é a direção do vento... mas que importa isso, se o objetivo é apenas andar... Sair do ciclo vicioso e chegar a tar, ou ao menos tentar...

Espero... espero... espero... Não aparecem mensageiros, nem homens com guarda-chuvas, mendigos não entram de supetão cantando hinos anarquistas. Horas se passam e noto que nada irá acontecer, estou fadada à espera eterna, parada para sempre no ponto em que a coragem me fugiu.

E é nessa hora que o cérebro se recompõe e diz que só uma mudança é possível e necessária. Se nada muda então, mudo eu. Tiro os sapatinhos, recolho a coragem, desacelero o coração. Levanto o pé direito e sinto o dourado dos tijolos sobre minhas meias, o pé esquerdo vem logo em seguida. Um, dois, três passos... Dobro a esquina, não olho mais para trás...



quinta-feira, 6 de outubro de 2011

Chegando...

Quase um mês que cá estou... Naquela terra de meus sonhos juvenis... Na terra do amor romântico, de torres brilhantes, da língua que se enrosca em erres sem fim...
Vim apaixonada, apaixonada pela paris Erasmus que vivi, agora vivo a Paris real, a das filas quilométricas, a do caos universitário, a Paris da desorientação... Do retorno às bases, da pergunta que não quer calar: será que quero aquilo que quero?

Não tenho casa, não tenho colo, não tenho amor... Aqui, tenho apenas eu, descobrindo a autodescoberta, tentando conhecer aquilo que não sabia existir...
Revendo os gênios que me iluminaram o caminho, os mentores que se me faltaram no Brasil, aqui me acolhem de braços abertos, querem me ensinar, querem me ver descobrir, e por isso serei eternamente grata...

Outrora disse que não me metamorfoseei em borboleta, e não encontrei respostas, sigo no mesmo caminho... Porém já não mais lagarta, respondo a pequenas questões, que embora pareçam simples sejam elas as fundamentais.
Sigo como naquele filme sabendo apenas o que não quero, e esperando que isso seja suficiente para seguir em frente...

domingo, 11 de setembro de 2011

Eu vim de lá pequenininha...

Ia colocar o título aqui de au revoir, de novo... Afinal mais uma vez me despeço... Ontem reuni amigos, hoje, familia, para dar aquele abraço e dizer aquele tchau...

Pela primeira vez me vi chorar, chorar de saudades, dessa terra e das pessoas que a povoam... Olhava para aquele grupo de pessoas que entraram em minha vida por acaso, pessoas que 3 anos atrás não existiam, e que hoje compartilham das melhores e piores lembranças, com as quais divido segredos, aventuras e desventuras, dignas de livros de auto-ajuda.

Percebo que não fujo mais, e ainda não deixo nada para trás, caminho para frente e comigo levo tudo o que preciso, levo os amigos e aqueles abraços eternos, as noites e noites regadas a papos portenhos, sobre amores possíveis e impossíveis, corações partidos e remendados...

Madrugadas com filmes vários, seguida de gargalhadas gostosas, almas despidas e segredos contados. Temakis sem fim em companhia do clube da luluzinha, com papos calcinhas, com papos cabeças, dignos de enlatados americanos sobre sexo a cidade e a amizade... Noites absurdas em crises surrealistas, a busca de personagens, imagens marrons, vermelhas e douradas, burros marcianos, preparando-me para o amanhã de jejum...

Se outrora cria impossível o romance, mergulhei nele até o último fio de cabelo, em beijos virtuais, vontades platônicas e juras piegas banhadas de clichês Caetanos... Descobri o irmão do irmão, aprendi a ouvi a sabedoria ora sábia, ora apenas ingênua daqueles que vieram depois de mim...

Parto com essa saudade, essa palavra que só a nossa língua comporta, e esse sentimento que só a gente entende... Saudade feliz, daquela que aguarda a visita inesperada, a carta, o abraço, o beijo, ainda que na virtualidade de uma webcam...

"quando eu voltar na Bahia terei muito que contar... eu nasci no samba e não posso parar..."

segunda-feira, 1 de agosto de 2011

Au revoir...


Alguns anos atrás escrevi nesse espaço uma canção de despedida, despedida de uma cidade pela qual me apaixonei, cidade que promoveu em mim uma jornada, não apenas um mochilão, mas uma viagem de autoconhecimento. Aprendi mais sobre mim, e, apesar de jurar de pés juntos que é ela que amo, tenho convicção de que amo a eu que sou nela, amo a pessoa que fui e me permiti ser...

Eu parti em busca de respostas e voltei de lá sem amores, sem trabalho, com várias perguntas na cabeça, cheia de dúvidas também...

Agora, o momento é outro, e é da terrinha do carnaval que me despeço, essa terra em que só vejo defeitos e critico diariamente, mas cujo dendê corre em minhas veias e se expressa em meus sorrisos. Redescobri essa terra recentemente e, como uma estrangeira, dessa vez mais no lugar que no momento, experimentei a folia momesca, descobri e redescobri amizades, conheci pessoas inesquecíveis, substituí algumas vírgulas por pontos finais.

Descobri a vida que não quero, o teatro que desejo, os amores que não quero... Aprendi que grandes amizades se escondem onde menos se imagina. Aprendi a andarilhar acompanhada, e descobri que para caminhar contra o vento não preciso estar sozinha, e que as vezes lenço e documento são essenciais...

Outrora de lá triste parti, ainda que voltasse de mãos vazias. E é num misto de tristeza e alegria que daqui parto, pois dessa vez deixo para trás pessoas, amores, amigos, carnavais, decisões, e castelos carcomidos por cupins. Vou na esperança que minha lembrança não vire castelo na areia, desejando ser seguida pelos que me amam (afinal "quem me ama me segue" né?), ser visitada pelos que me gostam e finalmente deletada pelos demais... Mas sei que vou a procura de mim, daquela que deixei para trás quando retomei minha vida de gata de apartamento, daquela que nem sempre tem quem lhe enxugue as lágrimas, e desentupa a pia, mas que sabe apreciar cada sol, e cada flor que se abre na primavera, que ri a cada floco de neve...

Enfim, parto, com medo e coragem, e vontade de desbravar mais uma vez essas terras de além-mar, vou sem saber o que me espera, esperando apenas encontrar lá um pouco mais de mim...



quarta-feira, 20 de julho de 2011

Ode ao Amigo

Hoje é dia do amigo, e me peguei pensando que escrevo muito sobre amores, medos, desejos e temores mas nunca sobre amigos...

Hoje quero apenas agradecer, afinal é tudo o que posso fazer, pela presença dessa família escolhida no meu dia-a-dia. Afinal são eles que enxugam suas lágrimas e que te dão aquela bronca que você precisa ouvir, te fazem rir, te fazem chorar, te fazem amar e até detestar...

Quero agradecer antes de tudo àquele amigo de infância que me viu crescer, e viveu ao meu lado cada brincadeira, descoberta e arranhão. Àquele amigo que apenas é, sem necessidade de explicar, amizade que se baseia pura e unicamente em ser amizade, que apesar de trilhar diferentes caminhos, ter diferentes anseios, crenças, gostos e desejos, mantém-se lá firme e forte, torcendo, cuidando, amando... Obrigada amigo, por apenas ser...

Também àquele amigo de sangue, que você não escolheu ter, mas com quem compartilha os gens, que te ouve por não ter opção, que te aconselha com sinceridade, e diz aquilo que você sabe mas não admite, que briga com você sem medo, sem medo do fim, pois sabe que ele nunca haverá...

Àquele amigo que ouve seus medos e inseguranças e compartilha as suas, aquele amigo que entende seu funcionamento e seu pensamento, que prevê a lágrima antes que ela caia, aquele para quem você despe sua alma sem medo, e despeja suas ansiedades, aquele que ama o que você ama, que houve seus papos filosóficos ou não, que esteve ao seu lado e viveu com você alguns dos momentos mais fantásticos. Obrigada por compartilhar do riso, do choro, do medo e do anseio.

Àquele amigo que abre sua geladeira sem medo, e nem pergunta antes de lavar seus pratos, que aparece sem convite, pois sabe que dele não precisa. Que não julga sua bagunça, e que vive em sua casa. Obrigada por não me deixar nunca só.

Àquele amigo que sai com você, que é a luz da sua diversão, que não te deixa chorar nunca, que te faz querer sempre ser mais, mais divertido, mais ingênuo, mais corajoso, que te faz querer viver e ver o mundo. Que te deixa ser um pouco inconsequente, um pouco adolescente, tira o peso e te preenche com uma leveza. Obrigada por me fazer flutuar.

E, enfim, àqueles amigos que passaram, que foram amores e amados, que ouviram e falaram, que machucaram e curaram e por algum motivo não pertencem mais ao meu cotidiano, não subestimem sua importância, mais do que no fundo da minha caixinha de recordações, estão também no fundo de minha alma, afinal, ajudaram a compor meu eu, fizeram parte de momentos inesquecíveis e só com carinho posso olha-los.

Amigos, sem querer soar muito egocentrica (como um amigo-irmão que tenho) obrigada por me ajudarem e continuarem me ajudando a ser nada mais do que simplesmente EU.

segunda-feira, 18 de julho de 2011

Brilho Eterno...

Casal se encontra, se apaixona, vai morar junto, briga, ama, ama, briga, briga, briga, casal termina (isso seria uma história normal se eles não resolvessem contratar os serviços de um misterioso escritório que apaga da sua mente aquele que você quer esquecer) ela apaga ele de sua mente, ele idem. Casal, agora desconhecido, se reencontra, se apaixonam, descobrem que se fizeram sofrer e se deletaram:

- Eu não consigo ver nada que eu não goste em você.
- Mas você vai, você vai ver coisas, e eu vou me entediar com você e me sentir presa pois é isso que acontece comigo.
-ok.

Daí fico pensando, tudo bem que o filme é lindo e romântico e blábláblá... Mas a moral da história é um pouco distorcida...
Veja bem, como toda boa mulher do século XXI frequento a cadeira do analista (nada de divã que Freud não é comigo não!) e uma das grandes discussões é perceber os comportamentos danosos e alterá-los.

Daí vem um filme e põe tudo isso abaixo, eu sei que vai ser ruim, mas ok.

Eles ainda tem a desculpa da mente sem lembranças, e nós? Se devíamos aprender com nossos erros, ou com nossos comportamentos, porque continuamos repetindo-os sem parar? E errar é humano não cola...

Talvez, seguindo a linha do filme, tiremos algum prazer do processo, afinal e daí que eu vou me entediar e me sentir presa? As memórias e alegrias que construirei nessa caminhada compensam esse fim... Talvez sejamos masoquistas também...

Mas enfim, voltando a questão do final feliz x final triste, creio que apesar de esperarmos sempre pelo final feliz - talvez por culpa da Disney, de Hollywood, e dos milhares livros de auto-ajuda que recheiam as prateleiras - acreditamos que o final mesmo não importa, afinal ele nada mais é que um ponto preciso no fim de um texto, de um livro ou de uma história, e que importa sua felicidade se tudo que o antecede é triste, tedioso e ruim...

Diferente das princesas da disney, não vivemos para uma fração de segundos de felicidade. Vivemos uma vida toda que não dura 90min, mas às vezes 90 anos, e no fim, quando estamos vendo nossas lembranças se esvaindo não queremos perder nenhuma alegria, ainda que toda a dor do mundo esteja ligada a ela. Quem abriria mão daquele friozinho na barriga por causa de uma dor de cotovelo? Quem desiste de comer o chocolate por causa do pneuzinho? Quem desiste da viagem de ida com medo do retorno?

Por fim, tenho que concordar que os momentos efêmeros que compõem aquele mosaico de dores e alegrias que é nossa vida guardam um brilho eterno que mente sem lembranças nenhuma é capaz de superar.


terça-feira, 5 de julho de 2011

Traduzindo-me

Sempre me vi como um andarilha, um ser sem raízes, mas com pernas, pernas para andar por esse mundo para não me fixar em lugar nenhum... Até que um dia, um sábio italiano me disse: você não é um pássaro, pode até querer ser, mas não o é... essa frase ficou martelando em minha cabeça...

Verdade que uma parte de mim quer ir embora, partir para outras terras, desbravar outros continentes... Mas sempre que deparada com essa possibilidade um medo me percorre a espinha, não medo do desconhecido, mas o medo das minhas motivações.

Temo não estar indo em direção a algo, mas me sinto em fuga, foragida de mim... Na vontade de ser outra, fujo de mim, do que sou, do que me tornei ou do que posso vir a ser... Me sinto Peter Pan, eterna criança peralta, e temo sair da terra do nunca, desejo não deixar de voar, para sempre ser criança perdida, viver de sonho e fantasia, em meio a fadas a sereias, pura sem saber diferenciar um beijo de um dedal...

Mas eis que o eterno tic tac da realidade me persegue, e de Pan viro Gancho, medrosa e assustada, lutando uma batalha perdida, tentando destruir a criança que fui, que sou ainda... Há momentos em que vislumbro aquela menina corajosa, que não teme sofrer e que está pronta para tudo, não teme pular do precipício pois asas tem... Tento não deixar de sê-la, mas sei que não passa de uma imagem, se por fora sou Pan, esse garoto peralta, aventureiro e corajoso, por dentro sou Wendy, menina cautelosa, que precisou voar para saber que queria manter os pés nos chão, que necessitou ir para saber que queria ficar...

E sigo assim, em contradição eterna, sofrendo alegremente e sorrindo enquanto choro... Posso ser Pan, Wendy ou Gancho, ora vôo para o infinito guiada apenas pela esperança, ora fujo da realidade que insiste em bater em minha porta, e às vezes, somente às vezes, acredito que a realidade e nada mais possa ser minha grande aventura.

Mas, afinal, que sei eu? Sou apenas mais uma nesse caminho de múltiplas escolhas e nenhum gabarito que é a vida...

Traduzir-se

Uma parte de mim
é todo mundo:
outra parte é ninguém:
fundo sem fundo.
Uma parte de mim
é multidão:
outra parte estranheza
e solidão.
Uma parte de mim
pesa, pondera:
outra parte
delira.

Uma parte de mim
alomoça e janta:
outra parte
se espanta.
Uma parte de mim
é permanente:
outra parte
se sabe de repente.

Uma parte de mim
é só vertigem:
outra parte,
linguagem.

Traduzir uma parte
na outra parte
_ que é uma questão
de vida ou morte _
será arte?

Ferreira Gullar

sexta-feira, 24 de junho de 2011

Culinária amorosa

O rol de livro de auto-ajuda ou similares que associam romance e culinária é enorme desde "Melancia", passando por "Comer, Rezar, Amar" chegando a "Amei, sofri, cozinhei" (ou qualquer coisa do tipo)... É notável que, para o senso comum, esses dois aspectos da vida estão intimamente ligados, não à toa engordar anda junto com casamento, e emagrecer com pé na bunda...
Recentemente, em um momento de revolta extrema, seguido de ironia e sarcasmo, defendi que amor era diversão enquanto as outras coisas da vida não dão certo... Por experiência própria nunca experimentei um crescimento simultâneo de todos os aspectos - mas isso são outros 500...
Como qualquer boa mulher, ou artista, vivo me contradizendo: as discussões entre eu e eu mesma são sempre as mais interessantes, afinal metade de mim é racional e a outra metade... manteiga derretida...

Bom, descobri uma nova paixão, ou curiosidade: cozinhar. Não sou uma gênia na ciência, mas tenho feito boas experiências e comprado maravilhosos livros de culinária, aprendi a fazer risoto, camarão à termidor, ratatouille, cheesecake e tiramisu... Temendo os quilos e quilos a mais resolvi então entrar em uma dieta, dessas radicais, me foi receitado carboidrato 0, açúcar 0, refogamento de temperos 0... Por um mês vivi de maçãs, arroz integral, feijão verde, quiabo e yogurte desnatado. Não nego que emagreci alguns quilos, perdi uns 5 centímetros de minha desagradável circunferência abdominal...
Feliz estava ao me olhar no espelho, cair do manequim M para o P... Porém, de repente me vejo tristonha, evitando sair... Porque? Estava tão mais bela e atraente, devia querer expor minha figura na medina! Mas não podia comer nada, como socializar? Em casa olhava a mesa do almoço e não mais havia prazer ali, comia, me alimentava, mas o sabor, a diversão de experimentar novos "arrozes", fazer outros molhos, abrir o livro de receitas aleatoriamente se fora...
Não é diferente com o amor e as outras esferas da vida. Claro que é possível ser feliz sozinho, natural que o amor não é fundamental para a vida, vive-se bem, vive-se muito sem ele... Mas ele é aquele sabor extra que dá o colorido ao nosso paladar, é aquele tempero que faz a comida mais saborosa... É o molho diferente que experimentamos em nossa macarronada... Afinal podemos comer o arroz integral e o feijão verde e seremos longevos e saudáveis, mas ainda assim não dá para resistir a uma boa moqueca com seu cheiro inebriante, afinal o que é a vida - seja curta, seja longa - sem esses momentos de felicidade e sabor extremo. O que é da comida sem o sal? Comestível, sim, mas saborosa?

Por fim, abandonei a dieta radical, e optei por uma intermediária, não preciso de moquecas todos os dias, mas nada me impede de ao menos uma vez por semana me dar ao prazer de uma boa fatia de torta de chocolate... Meu paladar agradece, meu coração também...

sexta-feira, 10 de junho de 2011

Qualquer cachorro vira-lata tem uma vida sexual melhor que a nossa?

Dia dos namorados chegando e olha eu aqui de novo retornando a esse terreno tão misterioso e cheio de armadilhas... o das relações amorosas...

Natural que esse seja o momento de lançamento de inúmeras comédias românticas, e ontem não foi exceção. Assisti a pré-estréia do divertido "Qualquer gato vira-lata", o qual, igual a uma infinidade de filmes do gênero, conta a história da mocinha que se apaixona pelo seu guru - o cara que ensina as regras da conquista - abandonando de uma vez por todas o seu príncipe desencantado...

No caminho de volta uma longa discussão sobre o assunto se sucedeu, e fiquei com essa grande questão em minha mente, quais seriam afinal, ou melhor, há regras para a paquera?
Fato que todo filme que se preze vai finalizar com a máxima de que não há regras, mas será? Eu, igual a mocinha de filme romântico, estava convicta que sim... Mas há sempre outro lado da questão e já ouvia meu interlocutor dizer, ah mas não se pode fazer tudo, né?

Portanto me presto apenas a analisar as regras... Vai que me animo a colocá-las em prática...

A primeira e mais difundida é: quanto menos se demonstra interessado, mais interessante se torna. Rejeição está mais sexy que lingerie Victoria's Secrets, e muito mais barata...
Não tenho dúvidas de que seja infalível (a rejeição... se bem que a Victoria's Secrets tem um bom potencial...), porém nas poucas vezes que consegui utiliza-la de fato a falta de interesse era real, e o crescimento do interesse alheio, surreal. Porém minha falta de confiança em minhas habilidades de atriz me levam a crer que quando há interesse o mascaramento do mesmo se torna tão grotesco que o acentue ainda mais.... Doloroso, mas fácil recusar os telefonemas, demorar para responder mensagens, mas como agir no tete-a-tete, como esconder o olhar, disfarçar o toque, o timbre de voz? Tudo bem que mulheres são vistas como as grandes atrizes, ou aquelas a quem historicamente coube o papel de fingir, mas ninguém é tão bom assim não é? De repente a Meryl Streep, vai saber...

Outro ponto me perturba profundamente, suponhamos que eu seja a Meryl Streep, e consiga utilizar essa tática sem transparecer que não passa de uma tática e fisgue o príncipe, ou sapo ou enfim, o que for de sua preferencia... Será que quando ele perceber que você também está na dele o interesse não vai sumir? Afinal se você só é interessante enquanto rejeita, no momento em que aceita a história já é outra... Pois é, todo medicamento tem efeito colateral, quem disse que no jogo da conquista seria diferente?

Enfim, me questiono até que ponto anular o que nos torna nós. Não seria autenticidade o atributo mais interessante de todos? Pois afinal quando rejeitamos alguém por quem não sentimos interesses o fazemos de forma tão autentica e despreocupada, que só podemos nos tornar desejáveis... Quem garante que foi a rejeição e não o despojamento com a qual foi dada o ingrediente chave?

Bom, para finalizar, volto ao início: regras não há. Apenas as criamos para segurança, ou melhor pela insegurança...

segunda-feira, 6 de junho de 2011

Caminhando Contra o Vento...


Engraçado, quando comecei isso aqui minha idéia era manter um diário das minhas peripécias de andarilha, mas virou espaço de choramingar minha prematura partida da França, superado isso, entrei na fase me formei e agora? e por fim tenho me dedicado a descrever as diversas facetas da minha vida amorosa e suas ramificações...

Porém senti saudade do objetivo inicial, e de claro introduzi-lo um pouco mais no meu dia-a-dia... E de uma forma impensada, um tanto quanto impulsiva comprei passagens para uma semana em Buenos Aires! Acompanhando dois amigos que logo se tornariam apenas um. Admito que passados dois anos das minhas andanças no além-mar me sentia um pouco insegura, temendo cair em comportamentos outrora abandonados... E se eu chegar lá e me ver sozinha? Uma semana em outro país, irei me divertir? Ainda no aeroporto recebo uma mensagem de meu amigo informando o cancelamento do seu vôo, se tornaria meu temor realidade? Iria para a terra do tango sozinha? E agora, José?

Só, cheguei no aeroporto e só, aguardei por uma hora a chegada do transfer e logo conheço um casal de brasileiros, ainda tímida não sou a iniciadora da conversa, mas certamente evito seu fim. O transfer nos abandonou, rachamos um taxi e seguimos para o albergue... Começava a germinar em mim o espirito de aventura, queria loucamente ir ver um show de percussão, sozinha será? - Apesar de ter viajado muito só nunca fui para eventos noturnos desacompanhada, sempre me soava um pouco deprimente essa idéia... Ufa, não foi dessa vez, na porta do hostel descubro duas brasilieras interessadas em ir também, jogo minha mochila no quarto e sigo para La bomba del tiempo, não me arrependi.

Dia 2, encontro o amigo do voo cancelado, temia termos interesses deveras diferentes e mais uma vez me ver sozinha... Medo bobo... Sintonia total, caminhadas sem fim - literalmente - fotografias e fotografias, cafés e vontade de bolo, muita vontade, pouco bolo... E vinho, muito vinho, me permiti até atingir o estágio de inebriação, já andava pelas ruas como se pertencessem a mim... A Marcelle destemida de outrora estava devagar se apoderando de mim...

No penúltimo dia minha missão era só, somente só, seguir para o pelourinho porteño: o caminito... Reaprendi a tirar fotos de mim mesma, caminhei pelas ruas, só e silenciosa, mas feliz e eis que no ponto de ônibus um senhor se aproxima, me ajuda a descobrir que autobus devo coger... E durante o trajeto me conta a historia do caminito, de Quinquela e por fim sua historia de amor no Brasil, fala um pouco de sua vida, e me sinto tão bem por ter sido eleita para ouvi-la. Sozinha me deito no gramado e aproveito o sol e a beleza da cidade...

Mas a verdadeira prova ainda estava para chegar, meu desejo era ir a uma Milonga aprender a dançar tango, mas sozinha? me perguntava. Mil desculpas criei em minha mente, você está cansada, não vai ter par... Engoli o medo e sozinha segui, um pouco nervosa, claro, cheguei à Milonga apresentei-me ao professor, silencio, não conhecia ninguém, não falava a língua, mas ainda bem que a dança obedece outros códigos que não os verbais... E assim na dança conheci pessoas, tive companhia para os "bons vinho", e para um boa noite de tango...

Retornei ao Brasil, feliz, realizada, apaixonada pelo tango, me percebi mais capaz que outrora, e já com desejo de uma outra viagem...


sábado, 26 de fevereiro de 2011

Enquanto o amor não vem?

Recentemente, em meu aniversário de 23 anos, um livro intitulado "Enquanto o amor não vem..." me fez pensar e questionar sobre relacionamentos e a pressão social para que encontremos um.

Fato que durante algum tempo sofri, e fiquei triste por fazer parte do bloco do eu sozinho, sofri pensando que eu havia feito algo de errado ou que teria algum tipo de defeito de fabricação que me tornava menos interessante que os outros brinquedos na prateleira. Demorou um tempo para perceber que não era o bloco do eu sozinho - que por sinal está bem mais cheio do que o bloco do eu acompanhado - que me incomodava, mas o clube dos corações partidos (porém fico feliz de informar que ao contrário de vasos de cristal corações partidos são muito remendáveis). Felizmente, superada essa fase, estou contente com as atrações do meu bloco e não trocaria esse abadá por nenhum "happly ever after".

Mas eis que do alto dos meus meros 23 aninhos sou assediadas com livrinhos que defendem que tudo o que acontece antes da chegada do verdadeiro amor apenas seja passatempo, ou seja, trabalho, estudos, viagens, amigos... são apenas uma forma de fazer-nos esquecer a solteirice. Talvez isso fosse verdade para as mulheres de outros séculos, que precisavam fazer passar o tempo até o desejado casamento, mas hoje, em vésperas de fim de mundo, você há de concordar comigo que o amor é antes de tudo passatempo enquanto trabalhos, viagens e amizades não decolam.

É, para mim, motivo de riso, ouvir em pleno século XXI mulheres assumirem que só se sentiram realizadas na vida com um homem a tiracolo, ou pior, com um anel nos dedos... Eu, como nunca fui muito fã das terríveis marquinhas deixadas pelos anéis nos dedos, prefiro evitá-los. A vida é repleta de tantas outras aventuras, que são elas meus objetivos e não minha distração. Natural que entre uma aventura e outra seria interessante um amor, para distrair a cabeça, mas jamais o contrário.

- E enquanto o amor não vem?

- Melhor é ficar sem...






terça-feira, 4 de janeiro de 2011

Desventuras de Ano Novo ou comprovando a Lei de Murphy!

Ia escrever aqui um texto sobre minha breve estada em Dakar trabalhando no 3 Festival Mundial de Artes Negras, porém esse relato foi totalmente ofuscado pela comédia (ou tragédia) que foi meu fim de semana de reveillon.

Bom, tudo começou com uma viagem para Itacaré, iríamos acampar, experiência nova para essa andarilha adepta de Albergues e Couchsurfing, mas porque não? pensei?. Pode ser interessante.
Foi com um misto de ansiedade e medo que parti de ilhéus no dia 31 de dezembro ao lado de queridas amigas rumo a Itacaré e ao encontro da galera que lá se encontrava desde o dia anterior.

7h da manhã eis que chega o buzu, mais cheio que lata de sardinha, não havia espaço nem para ir em pé, daí seguimos em um segundo ônibus para outro destino, onde supostamente encontraríamos poltronas vazias. Desnecessário dizer que isso não era verdade e enfrentamos uma hora de viagem em pé, fungando sovacos fedidos e com mochilas nas costas.

Entrada de Itacaré. A primeira visão é o favelão - normal, afinal estamos no Brasil - chuva caia quando resolvemos pegar um táxi para o camping. O carro adentrava em ruas cada vez mais estranhas e nada turísticas até que pára em uma ruela de barro, onde em uma prancha de surf está escrito: Sítio Fadul. Chegamos! diz o taxista

Na entrada do camping, ainda assustadas com o local, ouvimos as palavras proferidas da boca de um amigo:

- Chegaram na hora certa! Nem entre que estamos indo embora! Alugamos um quarto logo embaixo! Choveu e alagou tudo!

Sem entender bem o que se passava seguimos cerca de 3 m adentro da rua de barro para chegar em um pequeno quarto com uma cama de casal e banheiro sem porta.
Caberíamos ali? afinal éramos 11!
- Cabemos sim, ontem a noite dormimos quatro em uma barraca para 2 pessoas.

Engoli seco, não estava pronta para aquilo, será que não conseguimos outro camping?
- Não! A cidade está cheia.

Sanado o problema da porta do banheiro - utilizamos para tal um colchão inflável - foi debaixo de tempo nublado que seguimos para a praia. Os rapazes carregavam um cooler pesado com litros de Sangue de Boi e Vodka, o qual só mais tarde fui descobrir que não levava gelo... tsc tsc
Enfim, abstração parece ser nesse momento a melhor qualidade possível. Tarde divertida na praia, apenas para descobrir que durante o jantar o cano do sanitário havia soltado e alagado o quarto.

Mas, e agora está consertado? - Sim!

Puxo a descarga e o cano solta alagando mais uma vez o quarto o qual havíamos acabado de desinfetar principalmente devido a ressaca de uma coleguinha...
Possessas, limpamos tudo, e descubro que minha mochila molhou obrigando-me a utilizar a canga recem-comprada para fazer uma trouxa... Tudo bem, hora de abstrair, resolvida a situação seguimos para a praia onde passamos a virada - verdadeiramente divertida por sinal.

Hora de dormir! E hora de descobrir o som do ronco alheio...
Acordo pela manhã para descobrir que minha colega está com dor de barriga... tadinha! o banheiro não tem porta nem ninguém que se disponha a limpá-lo!

No café da manhã somos maltratadas pelo garçom e seguimos para uma padaria:

- Tá todo mundo de ressaca na cozinha, tão acreditando em mim não? diz a atendente - Se você quiser que seu pedido saia grite ai na cozinha: SEU BANDO DE MADONA, PREPARE AI MINHA PORRA!

Comemos nossa porra, e passamos a tarde a passear pela vila tirando fotos. Ao chegar no quarto, durante uma conversa: BUM! A cama desaba! A proprietária desse hum... espaço... apenas afirma o óbvio: foi o sobrepeso...

Notável que em um grupo de 11 pessoas mal há homem para fazer o trabalho de montar a cama, portanto nós mulheres precisamos por a mão na massa... dei-lhe um bom murro e eis que ela volta a toda sua glória. Cama remontada, saímos para passear... última noite em Itacaré, cansados voltamos cedo para dormir.

5h da manhã, alguém teve a feliz idéia de usar o toalete, ao pisar no chão:
- gente! acorda tá tudo alagado!

O colchão inflável já boiava, splash splash era o som dos nossos passos. Um verdadeiro pandemônio todos buscando salvar suas sacolas! Violentamente bate-se na porta da proprietária: - Minha senhora, assim não pode, assim não dá! Alagou tudo!
Mais uma vez ela apenas atesta o óbvio: - deve ter sido a chuva...
Tomo então a decisão: - Vamos deixar essa lama aí e pegar o primeiro ônibus de volta! Seguida apenas por mais duas pessoas tomo café, e retorno para encontrar o quarto já seco com todos dormindo. Dou um Bom Dia, tchau e parto, mas não sem antes acordar todos assim: quem tá me devendo, vamos pagando?

Voltamos sentadas no ônibus, porém vestidas com pijama, já que tudo estava molhado...

Chegando em casa, já sonhando em um banheiro com porta, camas individuais, e chão seco, somos recepcionadas por meu irmão que abre a porta com a seguinte frase:

- Meninas, tá faltando água para tomar banho!