sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Perguntas

teremos tempo de fazer todas as perguntas?
quais quer fazer?
você quer fazê-las agora?
do que temos necessidade?
como consegui-lo?
como comunicar?

como fazer um teatro que esteja a altura da vida de seus espectadores?
como fazer um teatro quando não sabemos nenhuma resposta quando temos apenas algumas idéias vagas de como fazer a pergunta?
termino com perguntas porque não tenho respostas
mas aquilo que quero são respostas

Julien Beck

que respostas queremos?

será que responderemos a alguma pergunta?





domingo, 21 de fevereiro de 2010

A Vida, modo de usar

Me deparei com esse título na saída de "A Fita Branca", filme belo e cruel que assisti esse fim de semana.

Após um bom capuccino - nada italiano por sinal - e uma boa conversa de garotas, dessa em que só se fala do último homem e das nostalgias carnavalescas, resolvemos dar uma passada na livraria... Nunca é tarde retomar o hábito da leitura pradoxalmente abandonado quando da entrada na Universidade, e agora que me deparo com o fim da mesma me pareceu um bom momento para perseguir antigos e saudáveis hábitos...

Olho tudo com muita atenção, me divertindo com os títulos de auto-ajuda - "coisas que toda mulher inteligente deve saber"- e outras filosofias de privada... Gentilmente folheio os belos e caros livros de artes plásticas e, então, vejo a estante de livros de bolso - não que esses gorduchos consigam se alojar com conforto nesse pequeno espaço da vestimenta, mas seu preço cabe no meu pequeno bolso estudantil que conta com o patrocínio das empresas Mamãe e Papai... Saramago, Umberto Eco... Preciso de algo mais leve... Georges Perec é o nome do autor... Minha professora doida da frança falava muito o nome dele, o título: "A Vida modo de usar".

Uau! Que maravilha, um manual para a vida... Parece que foi feito para mim, com tantas perguntas na cabeça e nenhuma resposta... Nesse momento em que vejo se desfazendo em minha frente aquele título em que me escondi toda a minha vida (tudo bem, dramático dizer toda a minha vida do alto dos meus 22 anos, mas eu faço teatro, poxa!). Sim, em exatos seis meses deixo de ser estudante, e agora José? Meio assustador para alguém que desde os 2 anos de idade freqüenta assiduamente a carteira escolar...

Do maternal para a alfabetização, ginásio, ensino médio, vestibular, intercâmbio, universidade... Sim, estou pensando em protelar um pouco e emendar um mestrado... 20 anos estudando e nunca, nunca me ensinaram o que fazer quando isso acabasse. E agora querem me dar um canudo e dizer: vai ser alguém na vida! Sairei direto para o banco reserva, engrossando as estatísticas, mais uma desempregada.

Não aprendi nenhum ofício, além esse de ser estudante... E agora me pergunto o que fazer, ou melhor, se fiz certo, se não devia ter escolhido algo mais seguro para a vida. Porque não fiz direito como a mamãe mandou? Talvez agora eu estivesse... estudando - pra variar- para fazer um concurso público, e engrossar essa classe social ascendente em nossa sociedade sem perspectivas. Ouço o tic-tac do crocodilo me perseguir, e assim como o capitão gancho quero correr loucamente e ficar presa na Terra do Nunca, virar menina perdida e parar de crescer, brincar de voar, nadar com as sereias, e comer comida invisível e colorida... Mas a vida tem cores diferentes, pequena, e só agora eu começo a vê-las... Lembra que o tic-tac sempre nos persegue na terra do nunca ou na do sempre, e se não podemos voar como o Pan não há outra opção senão enfrentar esse crocodilo feroz, e rezar para que possamos ganhar ao menos uma vez...

Enfim, comprei o modo de usar da Vida, mas sinto informar que não é um manual para os loucamente perdidos como eu, mas me parece ser - do alto do meu primeiro capitulo - um emaranhado de história de outros tantos perdidos como eu... Reconfortante saber que não estamos sós... Não é?

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

aiai... saudade?

Choraminguei tanto aqui sobre a saudade daquela terra de além mar, e esqueci de lembrar quão apaixonante é o local onde me encontro, ou seria o momento?

Cheguei aqui nostálgica e pensativa, fiz-me crer que voltaria em breve e em seguida afundei em depressão, em banzo de terra alheia, percebendo que o que passara passou... Que Paris não mais teria, que soirées italianas, regadas a vinhos franceses e conversas norueguesas eram apenas uma triste lembrança de alegres dias que ficaram para trás...

Chorei as amizades abandonadas, as festas sem fim, a vida que bouge na velocidade de um trem-bala, os garçons ranzinzas, os frios congelantes, a neve e o outono, as flores e o verão, a percepção do que sou e do que posso ser...

Chateei-me com a realidade inalterada que encontrei, com o calor úmido que reduzia o ritmo, com o preço das passagens de avião, com a ausência do vinho, dos amigos bilíngües, das torres famosas, com a falta de perspectiva no horizonte.

E, então (re?)descobri, a brisa que vem do mar e o sol que nele se põe, o calor que não tem fim, as noitadas regadas a cerveja, o som dos atabaques, a beleza da beleza negra, a vida que corre na velocidade de um barco - e que nos permite apreciar cada instante da paisagem - os elevadores famosos, a folia momesca, os amigos de infância, as amizades eternas...

Percebi que retornar não foi retroceder, mas sim andar para frente... Pois, cresci um pouco mais, descobri um pouco mais de mim na terra que me moldou, com as gentes que me criaram... a tristeza que um dia se apoderou de mim havia dado lugar - como o maracatu quando fulora na seca - a uma bela flor da felicidade sem fim da baianidade nagô. Ainda que os queijos e vinhos da terra da marseillaise tenham me apaixonado, o dendê que circula em minhas veias será sempre eterno...

Talvez o carnaval tenha me transtornado mais do que eu pensava... Talvez tudo isso não passe de saudade e nostalgia daquela semana de suspensão voluntária da realidade... Talvez...