segunda-feira, 6 de janeiro de 2014

No dia que eu troquei o acarajé por uma fatia de torta.

De vez em quando me aventuro a falar de temas que saem da minha simples vida de estrangeira-estudante na cidade luz e termino falando da comédia que é minha vida amorosa. Recentemente me disseram que eu devia fazer um texto politizado, sobre machismo, sobre feminismo e as minhas relações amorosas. Pensei em escrever sobre aquele ex que organizou em planilha excel todas as suas bitches com direito até a nota, pensei ainda em escrever sobre aqueles sites que advogam os direitos dos homens (dos homens sexo masculino) pois esses se sentem oprimidos em uma sociedade pós feminista, onde as mulheres tem tudo e os homens nada. Por sinal se alguém conhecer esse lugar troco o saldo da minha conta por uma passagem só de ida... Poderia falar que enquanto um jovem rapaz durante uma sessão de tortura à base cera quente, laser e pinças em suas partes íntimas não tiver escutado para ser bonito tem que sofrer, não dá para defender que os homens são o segundo sexo. 
Enfim, o tema é grande e dá para escrever um romance só dizendo o que eu poderia falar.
Porém, algo tão simples e corriqueiro aconteceu na minha última visita ao Brasil - que foi um pouco além das minhas tias e seus relógio biológicos (que por sinal meu irmão não tem) - chamou tanto a minha atenção  quanto opressão masculina em tempos feministas. 
Num belo dia de verão naquela capital baiana em que o cheiro de dendê está em cada esquina e o Astro-Rei acaricia nossas faces (antes da onda de calor em que essas carícias se transformaram em tapas), eu não fui ao Porto comer acarajé, nem ao Bonfim pedir proteção, mas a uma casa de chá comer um bolo. 
Ar-condicionado, cadeiras confortáveis, garçons, nada de dendê, nada de fitinhas coloridas... Eu e meu pequeno-grande irmão saboreamos tortas doces e salgadas, refrigerantes e coxinhas, das quais me arrependi na primeira tentativa de entrar no biquini brasileiro. 
Barriga cheia, é hora de pagar. A conta chega e o garoto, muito esperto como é, lembra-me daquela quantia que o devo e que não perdoará. Chamo mais uma vez o garçom, aponto para o valor total da conta. Da minha carteira tiro o cartão e entrego-lhe, ele, por sua vez, insere o cartão na máquina e entrega para o homem da mesa que, desconhecedor da minha senha secreta, não entende o que está acontecendo. Olho para o garçom e pergunto:  
- Foi eu quem deu o cartão, como é que ele saberia a senha? 
O pobre garçom, envergonha-se da sua terrível gafe, um pouco sem saber o que dizer, responde titubeante :  
-Mas, é... eu coloquei o valor total!
Talvez eu devesse ter recusado a pagar os 10% nesse momento, mas grunhi algo como eu estou pagando a conta toda e parti. 

Nesse mundo pós feminista, em que homens vêem seus direitos tolhidos em prol de uma sociedade pautada nos diretos para as mulheres, a idéia de que  o homem do outro lado da mesa saiba a senha do seu cartão é menos absurda do que uma mulher pagar a conta toda.