quarta-feira, 17 de outubro de 2012

A lágrima

Talvez eu precise fazer terapia de novo...

Mas aqui escrevo, me desnudo e me descrevo, para tentar me entender e controlar meus canais lacrimais que parecem ter vida própria e atirarem essas pequenas gotas d'água, pedaços de alma, de coração, de dores e amores, um misto de passado e presente que insistem em borrar a visão do que vem à frente...

Essas lágrimas me embaçam a vista, lavam-me as lentes e borram a maquiagem. Mas, é como se parte de mim se regozijasse nesse choro, como se o conforto da tristeza e melancolia conhecidas fosse preferível ao desconforto de uma felicidade desconhecida. E sofro gostando, formando e comprovando teses de que a felicidade só existisse para fazer somar uma tristeza lá na frente. E, minha alegria quando vem já vem assim, metade triste, metade lágrima, e cada lágrima é também metade alegria, e cada chorar metade riso...

E sigo assim uma contradição inteira, chorando para não rir e rindo para não chorar, transformando alegrias em tristezas e lágrimas em sorrisos. No fim, como boa brasileira nada mais sou que um samba onde a felicidade nada mais é que uma gota de orvalho, que como uma lágrima cai e ecoa numa página borrada de águas de olhos, criando poesia, poesia de tristeza...

"A lágrima clara sobe a pele escura
à noite, a chuva que cai la fora..." 

sábado, 21 de julho de 2012

On the road ou comendo sem rezar e amando sem pecar...

Longe de mim ser uma personagem Kerouaquiana, mas parti, de novo, pus o pé na estrada, e eis que retorno feliz, contente e cheia de calos. Longe de mim ainda ser a autora do próximo Comer, Rezar, Amar, mas não nego que viajar é viajar em si mesmo, é se conhecer um pouco mais e descobrir uma você que nem você sabe que existe. E foi nesse jeito meio On the road, meio comendo, rezando e amando que fui escrevendo, de início timidamente, frustrada com os limites de um orçamento estudante. Depois apreciando cada palavra e frase, como uma fotografia tirada, mas fotografia que não retrata a beleza física de lugar nenhum e sim o que senti, o que vivi, fotografias da alma...


Antibes, 03 de Julho

Agora viajo só e na casa de outros me encontro, estranhos me recebem, me acolhem, me alimentam, Sinto que não viajo mais para ver lugares mas para conhecer gentes, vidas, quem sabe para enfrentar de cara meu medo da solidão?
Saindo dessa tristeza que não tem fim e entrando nas finitas alegrias tenho que dizer que vi de tudo nesse início de viagem. Natureza, cidade, vilarejos, vistas, principados porches e casinos. Nice me ganhou com sua vila viéia às 8h da manhã, aquele multidão de turistas ainda dormia o sono despreocupado daqueles que não sofrem com os gastos das alegrias mundanas. Essa alma solitária que aqui vos fala perambulava metade melancolia, metade alegria.

Zadar, 06 de julho

Antes de entrar nesse primeiro dia croata, terminarei de narrar minhas aventurar francesas. Apesar do choro dos quebrados e da ruína financeira, do cansaço físico e dos temores, a experiência foi mágica e nova. Primeiramente viajar com alguém que muito gosto e admiro ainda que pour um fim de semana. Permiti-me um pouco mias, sem programas fixos fomos indo, descobrindo aos poucos. Passamos a primeira noite em um pequeno stúdio, quente e apertado, porém detentor de um calor humano sem igual. Nosso anfitrião, tão estranho àquela terra quanto nós, nos acompanhou em nossas peripécias automobilísticas. Em Vence apaixonei-me, em Èze enchi-me de melancolia, em Mônaco, de desapontamento. Para, em seguida, com o coração apertado despedirme e seguir sozinha o resto do meu caminho.
Em Antibes, o casal franco-japonês me acolheu em suas vidas, compartilhou seus amigos, suas fotos, contou-me como rodaram o mundo. Amando-se sem poder comunicar-se na sua plenitude, ensinando e aprendendo. Com eles caminhei pelo Cap d'Antibes, cansada cheguei à praia onde pude banhar-me, não sem ser paquerada devido à exibição da minha figura não européia.
Um à parte, porém, sobre Marseille e meu anfitrião, um pouco apreensiva segui para a casa de senhor  de 63 anos, mais jovem do que eu certamente! Levou-me às calanques, quanto medo! Já de início pegamos a estrada de moto, em seguida caminhamos e logo ele viu que essa jovem urbana não pode muito e partiu à procura de um caminho dito mais fácil. Chegamos no topo e a facilidade acabava ali. Olhei para baixo e apavorei-me, - não desço!! Desci, com medo, queria chorar, gritar a cada passo, pedia penico, queria mamãe!!! Mas não morri e lá cheguei, na bela Calanque d'en Veau, lugar intocável onde Yemanjá tira as férias da agitada Bahia. Esse senhor de 63 anos, meio paizão, vozão, enfim, me fez ver que realmente a vida tem muito a dar. Ouvi relatos de viagens sem rumo, sem programa, coisa que desejo mas temo. De repente, seja essa minha próxima calanque a ser explorada.



Zadar, 07 de julho
Parto então para a Croácia com pouco dinheiro e muitas dívidas, com a dúvida do devo ou não devo. Mas parto. Logo no avião descubro uma brasileira, carioca, que assim como eu só viaja. Juntas exploramos a pequena Zadar. Por um dia apenas viajamos acompanhadas. Companheiras de viagem. Melhores amigas de 24h. Com ela conheço um brasileiro que não falha em nos dar um bolo. 
Em Zadar, o órgão marítimo é algo de fenomenal. A brisa, as ondas do mar tocam, cantam num instrumento criado para elas. A música varia com o humor do Adriático. Ora chateia-se e grita, berra, diz: saiam daqui! Deixem-me em paz! No por do sol acalma-se e delicia-se com aquela bola vermelha que lhe adentra. Talvez para um cego o mar possa ser compreendido por essa sinfonia. São as palavras da mãe d'água ou ainda do Poseidon, dada a proximidade com a terra dos deuses...
No por do sol conhecemos um casal de mineiros que fazem o trajeto inverso ao meu, nos fotografamos e partimos. Na noite, o Garden com ses futons e camas é o cenário da despedida das canadenses, simpáticas e felizes viajantes. As brasileiras, no entanto, ainda seguem rumo à uma pizza com preço pouco e tamanho muito e assim despedem-se, trocando livros de rosto e promessas de reencontros no país do carnaval.
Eis que chega o último dia na calma Zadar, não sem antes derrubar o celular do alto da beliche. O quarto é agora multinacional : Brasil, Inglaterra, Holanda e Suécia encontram-se pacificamente, fora das disputas olímpicas e trocam dicas, conselhos e memórias de viagem. Parto então a esperar a hora de ir-me. E agora a escrita encontra o momento atual, sentada na beira mar observo o azul Adriático. Sinto fome. Assisto a vida passa. Próxima parada: Split.
 

sábado, 28 de abril de 2012

Stop the Mimimi

Ia escrever um texto aqui, sobre cotas ou políticas públicas da cultura, ou ainda a minha impossibilidade de avançar na minha dissertação... Daí percebi, eu só ia continuar o mimimi...


terça-feira, 24 de abril de 2012

Entre apostas, velhos e novos mundos

São 1h20 da manhã desse 25 de abril, data que não significa absolutamente nada, mas por algum motivo eu achei relevante destacar...

Há 7 meses parti, parti com lágrimas nos olhos, com coração apertado, parti com esperanças de no velho mundo encontrar a nova eu. E aqui estou no velho mundo e continuo a velha eu. Protelando cada decisão, cada momento importante, temendo viver mais, tentando não cair em velhos hábitos.

Nesses 7 meses, que tão rápido passaram e que como esse 25 de abril pouco significaram. Aprendi um pouco mais, talvez sobre mim, talvez sobre a vida. Menos esperançosa do que no dia 1, compartilhando desconfortos que outrora foram tão desejados... Como o sol e a chuva se alternam, rido e chorado. Mantendo os cordões umbilicais... Sim, como um bebe prematuro tenho experimentado as dores e as delícias da minha desejada vida européia.


Se outrora tudo era Vie en rose, agora a Vie está em todas as cores. E tenho que admitir, elas não são todas algodão doce. Mas como poderia eu, aproveitar o rosa dos dias, sem passar pela neve e pelo inverno. Sem tremer de frio e de raiva. Como poderia eu ficar feliz pelas conquistas sem obstáculos? E confesso eles são poucos e muitos. Poucos para quem de fora vê e aconselha, cobra e incentiva, pois apostando está, e teme perder... Temo ainda mais, afinal sou a aposta posta na mesa, e ganhando o apostador, ganha sentido a aposta.

Assim fico entre o medo e a coragem, a vontade e a inércia... O cérebro que ferve e o corpo que procrastina. Entre o riso, o choro e o absolutamente nada. Esperando, agindo... Enfim, seguindo...

Just Keep Walking...

domingo, 1 de janeiro de 2012

Novo ano...

Engraçado como um simples se pôr e nascer do Sol pode representar tanto para nossa vida ocidental... E eis que me vejo fazendo balanços da minha vida, como se tanto tivesse a balançar assim... Me pego com aquela jovem e ingênua esperança de que sim esse ano vai ser diferente, vou comer mais vegetais, vou fazer algum esporte, vou estudar mais, vou amar menos os outros e gostar mais de mim.
 
E tudo isso porque se ontem era dois mil e onze, no último dia do ano a gente soma e subtrai, divide e multiplica os 365 erros e acertos, sorrisos e lágrimas. Hoje, em dois mil e doze vislumbro 365 dias em branco, 365 possibilidades de erros e desejos de acertos, 365 lágrimas a derramar para cada tentativa de sorriso... 365 gargalhadas para cada choro...
 
E como gostamos de começos em branco, de viajar com pouco peso, tiramos esse dia um do mês um para esquecer aquilo que passou, para nos permitir começar de novo, muitas vezes errando os mesmos erros na tentativa de novos acertos, mas tentando acertar sempre, tentando rir mais do que chorar, levantar a cada queda, sonhando em nunca cair.
 
Primeiro gravo na alma aquelas lembranças das pessoas que contribuíram, dos momentos que fizeram valer os 365 dias passados. Em seguida vou criando a minha lista de desejos, que vão desde aqueles quilinhos detestáveis  aos sonhos megalomaníacos de "auto-resolvimento", 365 itens não seriam suficientes para minha lista, nem 365 listas seriam suficientes para todos os meus sonhos. Mas aposto que no fim só almejo descobrir como mudar e continuar sendo eu mesma, na vontade de acumular mais qualidades sem perder os defeitos que fazem de mim, eu.