quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Sobre profetas, madalenas e caretas

Sei que devemos fugir de temas polêmicos… Deveria me ater àquilo que não sei, falar de amores e autodescobertas, do que ousar falar daquilo que sei menos ainda... Mas às vezes não posso me controlar...

Apesar de ser anti-religião, como qualquer boa moça pequeno burguesa nascida na Bahia tive contato com ela... Fui batizada, assisti a casamentos, fiz primeira comunhão, vi missas de sétimo dia... Sempre me perguntei sobre ele, ou seria ELE? Sim, aquele mesmo que nasceu sem pai biológico e troca de fluidos, que desafiou as leis da gravidade e do bom senso.

Sim, ele me parece ter sido no mínimo um cara legal.

E vejo o que dizem por aí em nome DeLe, pregam que alguns coitados desafiadores de uma certa moral (que não se sabe de onde vem nem para onde vai) não serão salvos (de que, também não se sabe) são filhos do belzebu aqueles que aderiram ao látex, que utilizaram hormônios artificiais e acima de tudo que ousaram amar no mais completo sentido da palavra seu verdadeiro semelhante.

O que me dói é que ele era sim um cara legal. Dizem que vai voltar... Me pergunto como, voltaria defendendo alguma moral? Gritando nas ruas com um pequeno livro preto embaixo dos braços? Crucificando outros que assim como ele desafiam as regras de seu tempo?

Engraçado que para mim talvez ele tenha sido o primeiro vanguardista, naquele sentido mesmo de estar um passo a frente de sua geração. Moderno, negou-se a seguir as regras e ao invés de apedrejar, abraçou aquela que estava em desacordo com a moral. Dizia atirem a primeira pedra aquele que não pecou, e não ele também não atirou, porque será? Fez amizade com criaturas do submundo, convidada todos a segui-lo, todos de mente aberta.

Foi a vaca profana que pôs os cornos pra fora e acima da manada, recusando a pastar a grama que lhe davam, e gritou: o leite mau na cara dos caretas. Se alguém não teve vez em seus discursos foram eles, os caretas que não entendiam sua proposta, que cegos pela moral a seguiam sem questionar. Vislumbro ele hoje, cabelos longos, chinelos de couro, bandeira colorida no braço defendendo as novas criaturas apedrejadas. Ele trouxe o pensar, o questionamento, perguntou porque apedrejar essa pessoa, se seguindo ao pé da letra todos nós merecemos uma pedrada vez ou outra? Pregou um mundo livre de julgamentos, amemos os semelhantes, dizia.

Agora a manada grita uníssona contra todos aqueles que ousam por os cornos pra fora. Mastigam o que lhes é dado sem questionar, esperando encontrar uma salvação (talvez deles mesmos, talvez do pasto e da manada).

Mas talvez esteja errada, ele, sendo o cara legal que foi, no máximo diria gotas de leite bom na minha cara, chuva do mesmo bom sobre os caretas...






sem mágoas estamos aí...

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

A dança da cadeira

Outrora (tenho repetido essa palavra muito por aqui) me prometi nunca mais me importar com isso, tornar-me-ia auto-suficiente (afinal eu deveria me bastar). Maldisse amores, bemdisse a solidão. Pendurei as chuteiras e me prometi parar de buscar, afinal quem não procura acha.

Mas eis que me pergunto: e quando a música parar será que serei eu a ficar em pé?

Me disseram que em pé só fico se quiser, afinal sempre tem um banquinho num canto escuro que busca alguém que sente nele. Mas logo penso que minhas costas não suportariam muito tempo um banquinho, e que preferível seria uma cadeira ou até uma poltrona. Não seja exigente! Me dizem, vc compra uma almofada e encosta na parede! Querendo poltrona não vai sentar é nunca!

Sempre quis tudo, e nunca me contentei com alguma coisa apenas. Me disseram que era medo da realidade, até a disney já culparam... E agora fico aí ouvindo a música tocar temendo dança-la a fundo e terminar sem poltrona, sem cadeira, sentada em um banquinho num canto escuro. Já disse preferir ficar em pé, mas convenhamos quem aguenta tanto tempo em pé não é? Sem música, sem dança, sem cadeira sem nada?

Eis que a música para, as poltronas foram tomadas, as cadeiras também... Sobrou para mim o banquinho, me entregam, dizem: senta querida, afinal ficar em pé não dá... Olho para ele, olho para os demais, acomodados alguns em poltronas, outros em meros tamboretes... Sento, não sento? Me oferecem uma almofada... Olho para todos os lados, não vejo nada... Olho para mim... E eis que encontro o Iphone em meu bolso, toda a playlist está lá, coloco os phones de ouvido, aperto o play...

O medo se foi, afinal a música só para quando eu quiser...