sábado, 21 de julho de 2012

On the road ou comendo sem rezar e amando sem pecar...

Longe de mim ser uma personagem Kerouaquiana, mas parti, de novo, pus o pé na estrada, e eis que retorno feliz, contente e cheia de calos. Longe de mim ainda ser a autora do próximo Comer, Rezar, Amar, mas não nego que viajar é viajar em si mesmo, é se conhecer um pouco mais e descobrir uma você que nem você sabe que existe. E foi nesse jeito meio On the road, meio comendo, rezando e amando que fui escrevendo, de início timidamente, frustrada com os limites de um orçamento estudante. Depois apreciando cada palavra e frase, como uma fotografia tirada, mas fotografia que não retrata a beleza física de lugar nenhum e sim o que senti, o que vivi, fotografias da alma...


Antibes, 03 de Julho

Agora viajo só e na casa de outros me encontro, estranhos me recebem, me acolhem, me alimentam, Sinto que não viajo mais para ver lugares mas para conhecer gentes, vidas, quem sabe para enfrentar de cara meu medo da solidão?
Saindo dessa tristeza que não tem fim e entrando nas finitas alegrias tenho que dizer que vi de tudo nesse início de viagem. Natureza, cidade, vilarejos, vistas, principados porches e casinos. Nice me ganhou com sua vila viéia às 8h da manhã, aquele multidão de turistas ainda dormia o sono despreocupado daqueles que não sofrem com os gastos das alegrias mundanas. Essa alma solitária que aqui vos fala perambulava metade melancolia, metade alegria.

Zadar, 06 de julho

Antes de entrar nesse primeiro dia croata, terminarei de narrar minhas aventurar francesas. Apesar do choro dos quebrados e da ruína financeira, do cansaço físico e dos temores, a experiência foi mágica e nova. Primeiramente viajar com alguém que muito gosto e admiro ainda que pour um fim de semana. Permiti-me um pouco mias, sem programas fixos fomos indo, descobrindo aos poucos. Passamos a primeira noite em um pequeno stúdio, quente e apertado, porém detentor de um calor humano sem igual. Nosso anfitrião, tão estranho àquela terra quanto nós, nos acompanhou em nossas peripécias automobilísticas. Em Vence apaixonei-me, em Èze enchi-me de melancolia, em Mônaco, de desapontamento. Para, em seguida, com o coração apertado despedirme e seguir sozinha o resto do meu caminho.
Em Antibes, o casal franco-japonês me acolheu em suas vidas, compartilhou seus amigos, suas fotos, contou-me como rodaram o mundo. Amando-se sem poder comunicar-se na sua plenitude, ensinando e aprendendo. Com eles caminhei pelo Cap d'Antibes, cansada cheguei à praia onde pude banhar-me, não sem ser paquerada devido à exibição da minha figura não européia.
Um à parte, porém, sobre Marseille e meu anfitrião, um pouco apreensiva segui para a casa de senhor  de 63 anos, mais jovem do que eu certamente! Levou-me às calanques, quanto medo! Já de início pegamos a estrada de moto, em seguida caminhamos e logo ele viu que essa jovem urbana não pode muito e partiu à procura de um caminho dito mais fácil. Chegamos no topo e a facilidade acabava ali. Olhei para baixo e apavorei-me, - não desço!! Desci, com medo, queria chorar, gritar a cada passo, pedia penico, queria mamãe!!! Mas não morri e lá cheguei, na bela Calanque d'en Veau, lugar intocável onde Yemanjá tira as férias da agitada Bahia. Esse senhor de 63 anos, meio paizão, vozão, enfim, me fez ver que realmente a vida tem muito a dar. Ouvi relatos de viagens sem rumo, sem programa, coisa que desejo mas temo. De repente, seja essa minha próxima calanque a ser explorada.



Zadar, 07 de julho
Parto então para a Croácia com pouco dinheiro e muitas dívidas, com a dúvida do devo ou não devo. Mas parto. Logo no avião descubro uma brasileira, carioca, que assim como eu só viaja. Juntas exploramos a pequena Zadar. Por um dia apenas viajamos acompanhadas. Companheiras de viagem. Melhores amigas de 24h. Com ela conheço um brasileiro que não falha em nos dar um bolo. 
Em Zadar, o órgão marítimo é algo de fenomenal. A brisa, as ondas do mar tocam, cantam num instrumento criado para elas. A música varia com o humor do Adriático. Ora chateia-se e grita, berra, diz: saiam daqui! Deixem-me em paz! No por do sol acalma-se e delicia-se com aquela bola vermelha que lhe adentra. Talvez para um cego o mar possa ser compreendido por essa sinfonia. São as palavras da mãe d'água ou ainda do Poseidon, dada a proximidade com a terra dos deuses...
No por do sol conhecemos um casal de mineiros que fazem o trajeto inverso ao meu, nos fotografamos e partimos. Na noite, o Garden com ses futons e camas é o cenário da despedida das canadenses, simpáticas e felizes viajantes. As brasileiras, no entanto, ainda seguem rumo à uma pizza com preço pouco e tamanho muito e assim despedem-se, trocando livros de rosto e promessas de reencontros no país do carnaval.
Eis que chega o último dia na calma Zadar, não sem antes derrubar o celular do alto da beliche. O quarto é agora multinacional : Brasil, Inglaterra, Holanda e Suécia encontram-se pacificamente, fora das disputas olímpicas e trocam dicas, conselhos e memórias de viagem. Parto então a esperar a hora de ir-me. E agora a escrita encontra o momento atual, sentada na beira mar observo o azul Adriático. Sinto fome. Assisto a vida passa. Próxima parada: Split.