segunda-feira, 23 de dezembro de 2013

Gargalhadas e Lágrimas ou o Amor em 3 atos

Depois que o tempo passar e tudo que um dia foi triste é agora engraçado descrevo aqui um cena baseada em fatos reais. Afinal certamente um amigo meu me aconselhou escrever um blog sobre os homens da minha vida.

Ato I

Ela no bar olha para todos os lados como procurando alguém. Ele aparece olhando-a fundo nos olhos. Ela solta um ligeiro sorriso.

Um amigo: Ela, esse é Ele.
Ela: Prazer.
Ele: Prazer. Você vem de onde?
Ela: BraZil. E você?
Ele: Daqui mesmo. Você tem um sotaque muito sexy... Me ensine algo em brasileiro!
Ela: Brasileiro não, português. O que você quer saber? Oi, tudo bem?
Ele: Não, algo mais elaborado. Algo como: eu quero te beijar agora.
Ela (desconfortável, engole seco e ensina a frase em português).
Ele: Porquê você não se levanta?
Ela (se levantando): ok, ok. Estou de pé...
Ele: Nossa, você é baixinha!
Ela: Bom posso sentar de volta então.
Ele: Não, não... (Enquanto a deixa encurralada, espremida entre ele e o parapeito)

Ela olha para todos os lados, um pouco presa, um pouco desconfortável, ele, mão em sua cintura continua a olhar fundo em seus olhos, os lábios se tocam

Ato II

Ele e Ela de mãos dadas, caminham, sorriem na rua.

Ela: Mas quando eu for embora?
Ele: Eu não posso manter uma relação à distância.
Ela: Mas...
Ele: Poderíamos ser amigos no Skype.
Ela: Não, nós não somos amigos.
Ele: Então não seremos amigos no Skype.
Ela: Gosto de você, vou sentir sua falta... Talvez se...
Ele: Eu preciso te dizer algo.
Ela: Diga.
Ele: Eu... Deixa para lá!
Ela: Fiquei curiosa! Agora tem que falar!
Ele: Depois, mais tarde...
Ela: Poxa, você hein! Muita sacanagem me deixar na curiosidade, para quê começar algo... (Ri.) Enfim não quer falar não fala!
Ele: é por isso que te amo...

silêncio

Ela : Você disse que me ama? (ri)
Ele: Sim...
Ela (o abraça e ri): (baixo no seu ouvido) eu acho que te amo também...

Ato III

Ele e Ela.

Ela está na saída do metrô, aprecia aquela belíssima arquitetura a seu redor, pela primeira vez chegou na hora e Ele atrasado. A vida realmente é uma bela piada.

Ele chega, a beija rapidamente, é a chuva talvez, caminham pela rua molhada enquanto gesticulam animadamente discutindo as últimas novidades das vidas cotidianas. Chegam num bar e sentam-se em uma mesa. Ela vai beijá-lo. Ele afasta-se.

Ela: o que há? 
Ele (indeciso): Sabe Ela, o que você deixou na minha caixa de correios me tocou muito.
Ela (sorri): Ora, não foi nada!

(Entra o Garçom)

Garçom : Vocês já escolheram?
Ela : Uma taça de tinto, por favor.
Ele (titubeante): Para mim também.

(O Garçom sai)

Ele: Mas eu fiquei muito tocado com o que você fez, foi muito bonito. E isso me fez pensar... Eu vou te dizer isso porque te amo muito, muito mesmo. (Entra o Garçom e coloca duas taças de vinho sobre a mesa. Garçom sai) Eu não estou pronto para isso.
Porque se eu não te amasse eu não me importava, não daria a mínima, mas como te amo eu me importo com você.
Ela (toma um gole do vinho) : hum, ok então.
Ele : Mas você é uma pessoa genial! E esse tempo com você foi fantástico, acho que a gente pode desenvolver uma verdadeira amizade.

Ela : Desculpa mas não.
Ele : Não? Mas por quê?
Ela : Olha, foi legal, foi lindo e etc. Mas aí não dá, para mim não dá.
Ele: Mas e todo esse tempo que a gente passou junto, os momentos que vivemos, as conversas, as...
Ela: ...foi tudo ótimo, muito bom, mas Ele, não dá para você ter tudo né. Claro que você quer ser meu amigo, eu sou ótima! Mas aí você vai ficar feliz e contente com essa amizade e eu quebrar a cara. Obrigada, mas não obrigada.

Ele :  Eu queria muito que você pudesse ir para meu espetáculo, queria muito ouvir o que você tem a dizer.
Ela: É, mas não vou mais não. No dia que você apresentar aqui nessa cidade eu vou, mas daí a viajar para ver, eu não sou mais sua namorada.
Ele : E o espetáculo que você está preparando, eu tenho certeza que vai ser maravilhoso, eu queria tanto poder ir ver...
Ela: E você pode! Você será bem vindo...
Ele: Mas preciso de uma forma para saber... Será que posso pelo menos ser seu amigo de Facebook?
Ela: Claro. Você também não virou meu inimigo!

Ele toma um gole do vinho, uma lágrima escorre pela sua face

Ela : Você está chorando? Você está terminando comigo e você está chorando? (ri)
Ele (lágrimas escorrem pela sua face) : Sim... e você está rindo! Você está tendo seu coração partido, e você está gargalhando!





terça-feira, 17 de dezembro de 2013

E quando bate a meia-noite?

Quem já ouviu falar em relógio biológico?

Na minha infância o relógio biológico era o que te fazia levantar da cama sem despertador, acordando na hora que seu corpo pedia e dessa forma passando o resto do dia feliz, leve e disposta.

De repente você cruza a linha que divide a adolescência da adultescência, não que eu me sinta uma adulta aos 25 anos dependendo do paitrocínio mensal que me sustenta em terras francesas - e ele começa a fazer mais parte da sua vida do que nunca. Por vezes comparado com o boi da cara preta que assusta as criancinhas: o relógio biológico vem aí! Pega essa menina que tem medo de careta!

Mas, eis que em um belo dia de outono ou primavera (a depender do seu hemisfério) você retorna para terras familiares, pelo breve instante de uma semana, e há toda uma expectativa em torno das suas conquistas. É aí que o conceito de relógio biológico realmente muda, pois agora ao invés de ser seu horário natural de abrir os olhos e sair da cama, transforma-se, ele mesmo, em irritante despertador que te obriga a sair dela às 6h ou fugir do baile à meia-noite.

Seus muitos amigos já ouviram esse badalo e correm com suas abóboras e camundongos. Sua tia capaz de escutar não só o próprio alarme biológico, mas como de prever o alheio também, olha para você com um leve sorriso condescendente: você diz isso agora minha filha mas quando o relógio biológico bater... (enquanto bate freneticamente no seu próprio relógio, movido a bateria por sinal).

A madrinha, que de fada tem muito pouco, dá o pontapé inicial naquela conversa que te faz pensar que o alarme apitou e você, querida, colocou em modo soneca.

- Está namorando, minha filha? indaga-me muito desinteressadamente. Que nada, tia. Respondo querendo gerar ainda menos interesse. 

(pausa dramática) ...

- E você tem quantos anos mesmo? ... vinteecinco

(pausa mais dramática, seguida de olhar de pena e mudança brusca de assunto) ...

Talvez eu esteja enganada e ela seja sim a  personificação da fada madrinha à la Cinderela, que, depois de te dar todos os elementos para a diversão, vem te avisar que a festa só pode ser curtida até meia noite... pois ao badalar do relógio você vira abóbora e que príncipe vai querer comer abóbora não é? (um príncipe vegetariano, penso eu). E é à meia-noite que sua carruagem murcha, seu vestido se torna um avental, e seus cavalos, meros camundongos. É esperando o badalar do relógio que fica a pobre Cinderela, a festa toda, na iminência desse som que avisa que festa não acabou, mas, me desculpe, você não está mais apta a participar dela. Afinal uma vez apitado o relógio biológico nos transformamos em gatas borralheiras e toda a mágica se esvai...

Pobre Cinderela, a quem não ensinaram o botão soneca, para fazer dormir - de preferência em sono eterno - o irritante badalar do relógio, e quem sabe permiti-la a curtir o badalo da festa. Sem bicho papão, sem sapato de cristal nem nada, saboreando lentamente o seu doce de abóbora...





Ainda bem que meu relógio veio sem bateria...

terça-feira, 5 de novembro de 2013

Vivendo fora de casa, ou melhor, dentro da SUA casa

Quando era adolescente, sempre sonhava em um dia morar com a melhor amiga, sair do manto materno e ir desbravar outros mundos, ou melhor outras cozinhas, banheiros e horários de almoço...

Claro que antes disso tudo a gente sempre esquece que fora do recanto da mamãe a louça não é auto-lavante, a roupa de cama não é auto mutante, as refeições não tem tanta qualidade... Mas esse dia sempre chega, e aos 18 anos ao invés de sair da casa dos pais, foram eles que saíram da minha, voltaram para o "interior" me deixando sozinha em um ap de adulto, em nobre bairro soteropolitano. Pobre menina rica, 3 quartos para escolher um por dia onde dormir, a empregada vinha todo dia, quase uma babá, cozinhava, limpava, lavava, restava a essa pobre pós adolescente pagar as contas e tudo magicamente funcionava. A vida sozinha era belíssima!

Mas tudo que é seguro um dia acaba, e a gente bate asas para longe, para o outro lado do oceano de preferência. E para qualquer criança da década de 90, dividir um apartamento é o sonho: o dia a dia dos sitcoms americanos, amigos presentes em seu espaço compartilhado, risadas, bebidas, diversão, tudo parece a perfeição. 

Oh! o dia-a-dia real, você o nota quando está carregando um sofá em uma escada estreita, em seguida um armário de 50kg, e se encontra na madrugada montando móveis IKEA com manuais de desorientação.

A vida não tem mais regras, e Paris é sim uma festa, brigadeiros na madrugada, garrafas de vinho na segunda-feira. O problema é acordar na terça e descobrir que as garrafas não aprenderam o caminho da rua, o brigadeiro frio na panela já não tem mais charme e aquela fruta que você prometeu comer exala um odor estranho na geladeira e você não sabe de onde vem. De repente seu saco de roupa suja ultrapassa o de roupa limpa, e você termina saindo assim com aquele figurino meio úmido, meio amassado que acabou de sair da máquina. Eis que você vira sua mãe, fazendo para seu roommate a mesma piada que ouviu toda sua infância: "você é filha do dono da coelba?" (COELBA era a empresa de eletricidade da Bahia na minha infância). 

Compartilhar o espaço não é um seriado americano, primeiro porque ninguém tem dinheiro para pagar um apartamento grande e bem decorado, seja ele em dólares ou em euros, principalmente se seu emprego é quase inexistente. (Exceto quando seu sofá fica realmente preso na escada) Mas é saber que nem todo cabelo que entope o ralo é seu, encontrar a pia transbordando quando tudo que você quer é um copo com água, receber visitas depois de um pé na bunda quando tudo que se quer fazer é correr e chorar num canto. É aprender a abrir mão e ser assertiva, reclamar sem explodir e conseguir ficar quieta sem implodir. 

Porém, se "o inferno são os outros", vale lembrar que o paraíso é um tédio e aos vintetantosanos ninguém quer viver no branco profundo ao som de uma harpa. E é no vermelho intenso que a gente encontra o calor, o calor humano de um abraço inesperado, de uma risada compartilhada, de saber que ninguém vai te deixar chorar sozinha pelos amores mal resolvidos (e sim, eles são muitos), mas talvez te impulsionem a abraçar o capeta enquanto se entope de brigadeiro, é sempre ter alguém para dividir o brigadeiro na madrugada (e dessa forma ter certeza que sozinha não engordará).

A vida fora do ninho não é cor-de-rosa, e às vezes dá sim vontade de pedir penico.  Abrir mão de tudo para poder acordar e encontrar um espaço impecável, enquanto a vovó pergunta: "o que você quer almoçar hoje?"

Mas em meio a todo o caos, toda a implosão, e toda a diversão que fazem você sentir que nunca sairá dos seus vinte e poucos anos e se metamorfosear em adulto de verdade, você se pega pensando que se essa vida assim não estava nos seus planos, você não a trocaria por nenhuma outra. 

Corrigindo: se as garrafas soubessem o caminho da rua tudo seria muito melhor....

domingo, 13 de outubro de 2013

A letra fora do alfabeto

Em uma bela quinta feira pós verão tudo que outrora estava acertado, pago e definido desfez-se. Havia uma passagem para aquela grande maçã, cenário de intensas paixões de verão. Bom preço, pensava, passagem barata, me sentia a grande sortuda! Porém paixões acabam, e na quase véspera da partida, nem sofá havia sobrado do grande amor de outrora. E o que era barata virou cara, imutável, invendável, não rembolsável. O bolso e o coração duelavam. 


Vai! Vai! Vai! Vai!

Não Vou!



Não fui! 

E, como ainda diz a canção: amor só é bom se doer, pergunte para o meu saldo bancário que estava vermelho de dor. Encontrava-me sem casa, pois enquanto acreditava que ia aluguei meu quarto, passagem desmarcada, arrumei as malas, mudei para a sala. 

Coração partido, conta quebrada, espremida no sofá cama, facebockiando minhas desventuras descubro amigos daquela mesma grande maçã vindo ao velho mundo: uma carona para Zurich? 
Por que não, me pergunto, a mala está pronta, já estou no sofá mesmo, porque não troca-lo por um Suiço. Assim sem aviso prévio, sem programação, sem lenço nem documento, num céu de quase dezembro, eu fui.
Pulei no carro com um quase estranho, quase conhecido que em breve seria amigo. 
- Pararemos em Lyon primeiro, me disse. Topo tudo, respondi.


Uma vez que o plano A havia falhado, e os planos B, C e D não tinham a atratividade daquela primeira vogal. Eis que o inesperado acontece, que te impele apenas a dizer sim e mostra que tudo não passa mesmo de uma folha em branco, tudo pode ser redigido, riscado, pintado, mas se a tinta é permanente, o número de folhas é ilimitado.

Em Lyon, adentro em um albergue espanhol, um grande apartamento, jovem, caótico, artístico. Música toca, pós adolescentes enroscam-se nos sofás, fumando, bebendo, pintando, fazendo música, cozinhando. Peregrino pela cidade com esses estranhos e amigos, jantamos um jantar preparado à 20 mãos, todos colaboram, dessa forma o acerto é coletivo. A noite chega, nos espalhamos por aí, dorme-se no quarto, no colchão, na sala, na cozinha ou no chão.



Lyon
No dia seguinte, malas refeitas, pulamos no carro seguimos para a terra de Dada. Para cada quilômetro de túnel seguia-se uma bela paisagem: montanhas, lagos, cada curva uma surpresa. Em Zurich fui acolhida por aquele abraçaço que tanto precisava, mas não pedia, sequer sabia. Sorrisos, historias compartilhadas, vinhos, maçãs, fondues. Embarcamos num trem rumo ao topo da montanha, uma bela vista nos esperava. Nos encontramos no centro da nuvem, um branco infinito nos rodeava, como aquela folha, repleto de possibilidades. Não há tempo ruim suficiente para sufocar o riso, evitar as fotos, matar os abraços. No retorno tomamos o barco a vapor rumo à belíssima Luzerne e sua ponte de madeira. Um chocolate quente, um café irlandês, um alemão mal falado. Passeio pela cidade do Dadaísmo, igrejas, lagos, salsichas e mostarda, a chuva e o frio não nos impedem de aproveitar cada momento, perdidos nas pequenas ruas. Foi com uma pizza e um abraço apertado que me despedi da evil crew, que se formou em um verão, assim tão aleatoriamente quanto essa viagem. 



O horizonte branco. Foto por: Steve V Peralta

 Se eu não parti para cidade que nunca dorme, foi ela que veio até aqui perturbar meu sono, colar o coração, com cola de maresia, com abraço de amigo, com gargalhas sem motivo. Retornei à cidade luz renovada, preparada para mais uma, para mais várias, para o inesperado e a aventura, em busca das folhas em branco.

Aquilo que nem era plano nem nada, não era nem possibilidade, transforma-se na mais bela aventura. Nada pode dar errado, afinal não há expectativa, nem check list, não existe certo. Finalmente joguei fora os planos de A à Z, e pulei naquele que nem existia mas que apenas era...

Meu destino não traço,
Não desenho, disfarço,
O acaso é o grão-senhor.

terça-feira, 1 de outubro de 2013

500 days of winter

Meus dois anos de França se completam, na verdade até um pouco mais. Nesses mais de 500 dias de Paris eu vivi de tudo, sobretudo o inverno cinza que dura mais do que os três meses destinados a ele no calendário. Vi dois verões, duas primaveras, um sol apenas, inúmeros vinhos e 3 amores, cada um de um canto do globo, cada um tão diferente e igual como apenas os amores impossíveis podem ser. E agora o número 3 chega a seu fim, e assim como estive em outubro de 2011, me encontro em outubro de 2013, ouvindo um Grande Amor de Chico.  Outrora estive na mesma situação, sem saber se vou ou se fico, mas era do país do carnaval que partia, o coração na mão e as esperanças como guia, partido ficou o pulsante coração que nem sempre se contenta em bater e apanha muito mais do que devia, mas talvez não tanto quanto gostaria. 500 dias depois, com direito a 90 de amor possivelmente impossível cuja dor de cotovelo nada mais me rendeu que um corpitcho bacana para aproveitar o verão soteropolitano, me encontro aqui na mesma situação que quando cheguei.
As vezes penso que se fosse marinheiro era eu quem tinha partido, me esquecendo de que quem partiu fui eu, desta vez foi daquela grande maçã, que arrebatou-me como outrora essa velha Paris fez. Parti, com o coração pulsante na mão, sorridente dizendo não mais apanhar, sou forte agora! Pronta estava para a nova aventura, voltaria àquela que nunca dorme, para amar aquele em cujos braços eu poderia repousar em paz. E eis que a vida vem, e esse vento, o qual me pergunto tanto de onde vem e para onde vai, leva até o último grão da frágil paixão, que eterna foi enquanto durou, mas que foi tão efêmera quanto uma vela numa tempestade. Mal sabíamos que infinito é apenas o oceano que separa os amantes, e foi com juras do poetinha que nos portões de embarque selávamos o destino, talvez sabendo mais do que deixávamos transparecer.

Juraram deixar-se quando o amor acabasse, que seja eterno enquanto dure, disse ela, e se durar para sempre melhor, completou. Lágrimas rolavam enquanto chineses, japoneses, franceses e alemães embarcavam para destinos mil, como não amar a paixão impossível do americano e da brasileira? E tanto amor pergunta-se logo se era um pelo outro ou pelo amor mesmo, que só era porque não poderia ser. E a resposta jamais teremos, pois não foi, nem jamais haveria de ser. Não houve tecnologia, nem Iphone, nem passagens compradas em impulsos infantis que permitiu aos amantes tocar o platônico. 
Mal sabem eles que talvez assim, sem jamais verem o amor esvair-se no dia a dia dos casais, nas contas, nas brigas, nas manias chatas, tenham guardado para si o melhor. Esvaiu-se sem se ver, ou melhor, foi derramado ao longo dos milhares de quilômetros que os separava, repousando no fundo do salgado mar que conta agora com as lágrimas choradas e as aventuras jamais vividas dessa brasileira parisiense, e daquele americano... 
Saying good bye

terça-feira, 7 de maio de 2013

E depois dizem por aí que um raio não cai duas vezes no mesmo lugar...

Às vezes coisas ruins acontecem e de uma forma tão estranha que a gente tem que se perguntar se não estamos vivemos dentre de um roteiro bem amarrado de filme americano, algo como o Show de Truman. O cara lá em cima o roteirista geral e a platéia principal, come pipoca e bebe coca-cola enquanto se diverte com a comédia dos erros dessa pobre mortal.

Estava eu levando minha vidinha normal, alguns tédios aqui, algumas decepções ali, algumas alegrias também por acolá. Em uma sexta-feira primaveril eis que me ponho a passear, um jantar no chinês, seguido de um bar francês metido a africano, com um passeio pelas bordas do canal Saint-Martin, cenário da Amélie Poulain. A vida parece até que está cor de rosa.

Antes de voltar para casa um barzinho final na rua da boêmia parisiense, o bar cheio, passo me apertando entre uns e outros, uns homens bonitos e outros não tanto, cruzo olhares com uns olhos azuis luminosos e penso para mim "mas que eu queria eu queria", peço a cerveja, acomodo tudo muito bem dentro da minha pequena bolsa, estilo carteiro fechada a zíper, uma paquerada aqui outra ali. Atravesso a multidão para chegar até o  meu amigo que me esperava. Multidão atravessada, me sinto leve. 

Sim, muito leve, leve até demais, não, não estou leve metaforicamente : a bolsa está aberta e carteira foi levada. Como? sem entender o que acontecera falo muito tranquilamente, pegaram minha carteira. Entorpecida por aquela situação, não entendo o que me aconteceu, 
- como assim, quando?
- agora, entre o bar e aqui. 
- mas como? quem?
- não sei, fui furtada, pelo menos não tinha dinheiro...

Engulo a amarga cerveja, fruto da minha última operação bancária, vamos embora, preciso bloquear o cartão.

- você não precisa de dinheiro? já vou responder amanhã eu saco, quando me toco que não tenho cartão, nem tenho mais titre de séjour, nem carteira de estudante, nem mesmo carteira. Uma sem papel. Enfim, como se estivesse fora de mim vou caminhando, mendigos me pedem dinheiro na rua, apenas respondo acabei de ser roubada, e um olhar de pena e compaixão recai sobre mim. Cartão cancelado, não há muito mais dano a ser feito, me falta prestar queixa.

Dirijo-me então à delagacia no dia seguinte, o endereço apontado pelo google maps, advinhe, estava errado e me fez caminhar alguns quilometros além do necessário. Descubro então que sim a delegacia do meu bairro pegou fogo e está atendendo em outro lugar. Delegacia vazia, três pessoas na minha frente, talvez o sábado não será tão perdido, ledo engano, 3h de espera para dar uma queixa de 10 min. 
Me restou aproveitar o domingo no parque.

Segunda feira, após a tediosa aula matinal, sigo para refazer meu titre de séjour, afinal como boa estrangeira que sou, ficar sem papel por muito tempo pode ser um risco. Fui no endereço indicado : não senhora, estudante é lá do outro lado da cidade, você precisa marcar com antecedência! - mas minha senhora, viajo em um mês. Um simples levantar de ombros deixou bem claro o espírito nem aí da senhora. Telefonei para os responsáveis que visto minha situação me mandaram ir sem hora marcada nem nada. Cheguei. Não podemos fazer nada pela senhora, outro titre demora um mês e não nós não entregamos recibo para pegar duplicata de visto. Mas eu viajo moço, eu passo três meses fora, e eu preciso voltar. - Não posso fazer nada, madame.

Enfim, graças ao advento da internet no celular, vou já marcando meu horário para o quanto antes que para a minha sorte era o dia seguinte. No metrô enfurecida por tanto vai e vem na cidade luz converso com um amigo. 

Péééé! 

toca o alarme da porta que fecha, e sinto apenas alguém violentamente puxar o celular da minha mão o que estará acontecendo, pensa meu cérebro, enquanto meu corpo puxa de volta o aparelho. Na queda de braços, claro que não sou a mais forte, comigo resta apenas um fio partido. Sem saber em que língua me expressar, um grito de pavor sai de minha garganta - aaah!, um senhor ao meu lado tenta pegar o ladrão, a bagunça impede que a porta do metrô se feche e todos tentam, sem sucesso pegar o sujeito, que teve seu casaco perdido e relógio quebrado em tanta confusão. Procuro para ver se deixou para trás meu precioso objeto de comunicação, nada. Entorpecida pego o metrô, não sei mais onde estou e que raio me atingiu essa vez, se fúria divina existe fui vitima dela, mas porque, meu deus? Pago com juros de bancos brasileiros e adiantado por todos os pecados que ainda hei de cometer. O trajeto de volta para casa nunca pareceu tão longo...

Em casa chegou e ligo para aquela cuja função é a de dar colo, fui roubada, de novo! Um email recém chegado na minha caixa de entrada : Marcelle, me ligaram da polícia, acharam seu celular! 
Bom nem sempre pouca sorte é azar! Volto em cima do rastro, meus 40 minutos de metrô abraçada na bolsa, imagina se agora é a vez dela? La na delegacia, sou assim a vítima do roubo, a senhora está bem, se machucou, reconhece o celular, e o meliante, aceita um cookie?

Queixa assinada, retorno para casa. A maré de azar só pode ter passado, no dia seguinte iria pedir a duplicata dos documentos, para deixar de ser sem papel. Se bem que dois boletins de ocorrência em mãos, posso me considerar muito coisa, mas sem papel jamais! Ouço palavras de encorajamento : poderia ser pior! Pelo menos você está viva, pelo menos não foi um assalto! Claro que enquanto se está vivo sempre pode ser pior, mas isso não muda o fato de ser ruim, nem devemos agradecer por ter sido só um roubo e não um assalto, ou só um assalto e não um sequestro, e quando tudo acaba, ainda podemos dizer : pelo menos subiu para o paraíso e não desceu para o calabouço... No final, ta valendo ficar feliz por dias tediosos, afinal nada aconteceu...

Já em casa vou conferir, quando será que o novo cartão chega, afinal preciso poder acessar meu dinheiro. Saldo 1€. Como assim, me pergunto, não tinha tantas dividas a pagar... 

Lembra o primeiro roubo? Enfim resultados tardios devido à demora de processamento de saques bancários durante o fim de semana... 

Enfim, prever mais um dia na delegacia para fazer o boletim de ocorrência número 3. Tudo resolvido desde minha situação com o titre de séjour à queixa no banco... Voltando para casa num dia tão primaveril quanto aquele em que tudo começou, um chinês aleatório na rua sorri e me diz :

- Feliz Ano Novo

Para quem achava que eu não entedia ironias, essa não deixou dúvidas...


segunda-feira, 29 de abril de 2013

Uma crônica francesa


Domingo de sol, após um longo inverno que parecia não ter fim eis que o Astro-Rei dá as caras. Acordo, olho pela janela do quarto, temo abri-la e acordar a família de pombos que moram no batente. Não que eu seja uma defensora dos animais, longe de mim defender esses pombos que de paz não tem nada e moram sem pagar aluguel na minha minúscula casa. Mas meu medo de um ataque digno de pássaros hitchockianos não me permite mexer nessa turma.

Enfim, arrasto-me até o banheiro e diferente de muitos franceses não apenas tomo banho como passo desodorante para evitar qualquer efeito colateral do tão esperado calor. Torradas prontas, comidas, acompanhadas daquele café que só uma boa nespresso é capaz. 

Em guerra com a preguiça e lutando contra a ressaca da noite anterior, decido que nada melhor que um passeio no parque, um banho de sol, enfim "nada melhor do que não fazer nada". Decidimos pelo mais celebre jardim, naturalmente minha companhia para o parque está atrasada, afinal é brasileiro! (não que eu estivesse pontual)

São 7h da noite, e o sol ainda brilha. Esse é um dos pontos mais altos do pós-inverno, a duração do dia. Dia bonito vou apreciar pegando um ônibus, ele chega, eu entro feliz :

- Bonjour Monsieur! Digo sorridente ao motorista.

Ele como todo bom clichê parisiense, enfezado manda que eu me corrija:  Bonjour não, bonsoir!

Como boa baiana que sou, nada mais justo que roda-la. Pois falei com esse francês que a gramática há de corrigir que eu falo o que eu quiser e como eu quiser!

Ele devia era ficar contente que eu tava sorrindo e mandando meu bom dia.

Ele enfim usou do poder que tem e retrucou :

-Mademoiselle (afinal mesmo grossos eles são educados) ou você sai ou o ônibus não sai. Pensei em responder, pensei inclusive em não sair e vencer pelo cansaço, e olhei que as caras parisienses blasés de outrora, começavam a encher-se de fúria.

Eis que no horizonte aparecia um outro ônibus, mesmo destino, rabo entre as pernas saí, Bonjour nunca mais...

*Baseado em fatos reais roubados de um amigo cara de pau...

sexta-feira, 19 de abril de 2013

Respondendo (ou Imitando) o Olivier...


Tanto alvoroço em torno do francês, e vi tanta lista feita por brasileiros tão chateados com o que ele disse que resolvi fazer a minha. Não acho que a gente se comporte melhor ou pior que os franceses, apenas diferente...

A França por uma Baiana:

  1. Aqui na França você manda carta para tudo. Você manda uma carta para se matricular na faculdade, você manda cheque pelo correio, carta para cortar a linha do celular. No final é sempre sábio ter uma coleção de envelopes e selos em casa.
  2. Na França o ano pode começar em Janeiro ou Setembro e em Fevereiro se você é chinês...
  3. Nas padarias o funcionário pega o pão com a mão, enrola num pedacinho de papel e coloca em cima do balcão, depois disso já não tem mais muita importância se você vai colocar sua baguete em baixo do braço ou no porta-malas do carro.
  4. Aqui na França ninguém usa luva ou gorro na padaria.
  5. Aqui na França todo restaurante de comida japonesa pertence aos chineses.
  6. Aqui na França as pessoas pedem perdão o tempo todo, e não necessariamente da forma mais polida : na saída do metro enquanto te empurra freneticamente o cara grita: Pardon! por outro lado, qualquer contato físico não previsto com um estranho acarreta um gentil pardon. Eu sempre fico imaginando quantos pardon eles não diriam atrás de um trio elétrico
  7. Aqui na França ninguém tem empregada doméstica ou faxineira. A idéia de faxina é limpar até onde seus olhos vêem e seu braço alcança.
  8. Aqui na França todo mundo usa laquê o que resulta em vários garotos com penteados do tipo tomei um choque, com cabelos apontando para cima.
  9. Por isso todos os meninos parecem ser gays, apesar de nem sempre o serem.
  10. Apesar de ser o país do vinho, aqui na França todo mundo toma cerveja.
  11. Aqui na França os garçons só vem anotar seu pedido uma vez que você fechou o cardápio. Só para quando ele chegar você ter que abrir o cardápio de novo e procurar o prato que você vai pedir. Vai entender a lógica
  12. No supermercado não tem empacotador e você tem que agir rápido senão uma fila de pessoas furiosas te fuzila com o olhar. Ao mesmo tempo que você empacota suas compras, tem que ter o cartão pronto para passar, e ter terminado tudo quando a sua nota fiscal sair.
  13. Aqui na França você sempre recebe o troco mesmo que ele seja só um centavo, mas quando você tenta comprar algo com seus uns centavos todo mundo faz cara feia.
  14. Aqui na França todo asiático é chinês.
  15. Aqui na França onde você estudou conta mais que suas reais competências. Você pode facilmente ganhar mais que seu chefe só porque sua escola é vista como melhor.
  16. Aqui basta fazer um raio de sol que todo mundo vai para o parque. Em Paris como não tem praia não é raro ver gente de biquíni no parque se bronzeando.
  17. Aqui na França não tem muito shopping, na verdade os poucos shoppings comportam as lojas mais populares. Ainda que esteja no inverno todo mundo vai fazer compras na rua.
  18. Aqui eles produzem vário reality shows, de todos os tipos, tem um até para encontrar amor para agricultores.
  19. Aqui existem cinema que só passa filme dublado, tem francês que não gosta de ler legenda.
  20. Na França todo mundo estaciona muito mal. "Encostar" no carro da frente pode ser bater nele repetidas vezes para ver se o seu cabe na vaga.
  21. Aqui se come muita manteiga, no café da manhã se coloca manteiga e mel na torrada. A manteiga não se passa no pão mas se corta fatias e coloca encima. O croissant tem gosto de manteiga, mas ainda assim nunca vi mulheres tão magras quanto as parisienses.
  22. Fora a manteiga, no café da manhã só se come coisas doces : mel, geleia, cafe, suco, cereais.
  23. Aqui uma refeição completa comporta no mínimo três pratos : entrada, prato principal e sobremesa ou queijo.
  24. Em Paris também não tem gente gorda. Só turista.
  25. Aqui você não renova a carteira de motorista, quando perder todos os seus pontos você pode comprar mais.
  26. Aqui todo mundo dá dois beijinhos, inclusive homens, mas ninguém se abraça.
  27. Aqui eles tem uma forma de falar que é invertendo as palavras, por exemplo fête é teuf, femme é meuf, lourd é relou e por aí vai.
  28. Aqui eles podem expressar muito sem falar uma palavra, apenas deixar o ar sair da boca, o famoso "pff" francês. Uma conversa pode ser: - como como foi a festa?  ah pff…
  29. Aqui todo mundo conhece a banda carrapicho e a musica "bate forte o tambor"
  30. Aqui não existe uma palavra para namorada/namorado o pessoal usa copain que significa amigo. Sair com alguém por uma semana já o qualifica como seu copain, depois só varia o nível de comprometimento.
  31. Aqui se come pão com tudo, até com macarrão.
  32. Apesar de viverem numa das cidades mais lindas do mundo os parisienses reclamam de tudo, do tempo, do transporte, do preço dos aluguéis e reclamam de reclamar.
  33. Aqui eles tem várias palavras inglesas no vocabulário como weekend, wifi, happy hour, mas tem que falar com o sotaque francês.
  34. Aqui na França eles não gostam de desodorante, dizem que resseca a pele.
  35. Aqui na França você pode fazer muita coisa sem precisar realmente falar com ninguém, você pode passar suas compras no supermercado sozinho, fazer seu pedido no macdonald's sozinho, pedir a pizza pela internet.
  36.  Aqui todo mundo assoa o nariz na frente dos outros, na rua, na aula, no restaurante no ônibus.
  37. Aqui na França você passa 2 anos recebendo o seguro desemprego, já conheci mais de um francês que diz que adoraria ser demitido.
  38.  Aqui na frança todo mundo usa roupa preta ou tons sóbrios, um passeio no metrô parece o caminho para um velório.
  39. Aqui todo mundo está sempre lendo ou escutando música no metro.
  40. Todo pedinte de metrô toca aquela música italiana Volare.
  41. Aqui na França tudo fecha no verão, restaurantes, bares, até o chaveiro da esquina fechou um mês inteiro para o verão.
  42. Aqui na França tem aquecedor em todo transporte público, mas não tem ar-condicionado para os dias de verão e as janelas não abrem.
Com certeza tem muito mais coisas peculiares no comportamento francês se alguém se lembrar de algo...