sexta-feira, 24 de dezembro de 2010

Sonhos...

Tanto almejei alguma aventura, que o destino me proporcionou uma ida à África, continente ainda inexplorado por mim, ventre de nossa cultura baiana...

Horas antes da minha partida colei grau, naquela casa branca, outrora rosa, centro administrativo desse microcosmo que é a escola de teatro. Foi naquela pequena sala da direção repleta de fotos de grandes artistas de nossa terra que jurei jamais ferir pessoa humana.

Uma peculiaridade, porém me chamou a atenção, ao final da cerimônia, em cima do frigobar se encontrava uma bandeja de sonhos destinados as formados- sim, sonhos com recheio de goiabada - mas, visto que os formandos eram em maior número que os sonhos, os dividimos, e eis que já formada ouço no pé do ouvido:

- Celle, quer dividir seu sonho comigo?

Sem beca, sem pompa nem circunstância, como sempre foram os ritos de passagem na minha vida, tiramos fotos diante do casarão. Artistas como somos não nos faltou criatividade, e na falta do canudo, exibimos nossos sonhos para a câmera! Sonho compartilhado por todos que ali diziam tchau, ou até logo, para essa vida acadêmica.

Enquanto enfermeiras, médicos, advogados e engenheiros vivenciam belas cerimonias com reitores, oradores e paraninfos, canudos e capelos, videos e canções. Nós, artistas, olhamos fotos empoeiradas penduradas na frágil parede, nos apertamos uns contra os outros em pequenas salas, miramos os antigos e dividimos alegres e contentes nossos sonhos. E é com um sonho na barriga apenas que partimos na esperança de que ele e nada mais seja suficiente para mante-la sempre cheia...

segunda-feira, 8 de novembro de 2010

Desde que o samba é samba é assim...

Ontem assisti a um show de Caetano Veloso... Caetano é sempre algo mágico de se assistir, e não parei de pensar em minha condição enquanto sonhava balançada por suas composições...

Sempre que vou para um show uma frase fica em minha cabeça, e dessa vez sai pensando: "Solidão apavora, tudo demorando em ser tão ruim..." Já faz um tempo que estou só - romanticamente falando, afinal estamos sempre sós, nascemos (exceto os gêmeos) e morremos sós - e de uns tempos para cá tenho refletido muito sobre as frases feitas a respeito desse tema...

A primeira é a célebre "antes só que mal acompanhada", a qual ainda tenho dúvidas se é realmente algum tipo de sabedoria popular, ou algo inventando por um solitário para justificar sua condição. Não cheguei a conclusão nenhuma, mas garanto que já vivi os dois lados da moeda. Durante anos preferi estar mal acompanhada que só, e sofri horrores, claro, chorei, mas também sorri apaixonada - iludida que nem mocinha de comédia romântica, mas a ignorância é uma benção, não é? Mas sempre pensava, bom na pior das hipóteses pelo menos eu tenho alguém para dividir a macarronada, ficava com a pessoa errada enquanto não aparecia a certa (outra célebre frase para os insatisfeitos), até que comecei a pensar que porque eu deveria perder tanto tempo com alguém que eu tinha certeza que era a pessoa errada, e para piorar nem boa companhia era.

Antes só, né? Tento me convencer de que esse lado da moeda é melhor, afinal ando agora acompanhada apenas de mim mesmo, e creio que eu seja uma boa companhia na maior parte do tempo... Mas nem sempre... Mas enfim, informo que o lado de cá é tão parecido com o lado de lá. Ainda sofro horrores de vez em quando, naturalmente choro sozinha, mas sorrio também, muitas vezes iludida que nem mocinha de comédia romântica que acredita em final feliz, mas como disse anteriormente o caminho para o final é muito longo e pouco divertido...

E é aí que Caetano diz: "tudo demorando em ser tão ruim..." E talvez seja essa a parte mais apavorante da solidão, a falta de horizonte de que ela vá acabar... Mas sigo iludida que nem mocinha de comédia americana repetindo que acaba sim, melhora sim e se não melhorou é porque ainda não chegou o fim...




sábado, 18 de setembro de 2010

Abaixo o final feliz!

Engraçado como ficamos viciados nos roteiros dos filmes americanos, de tal forma que no fundo a gente sempre acredita no final feliz. No fim a feia sempre vira bonita, você sempre consegue o emprego dos sonhos e o príncipe encantado sempre aparece. Naturalmente, como toda boa menina classe média, vivi rodeada desse felizes para sempre, e aprendi a gostar, e até desejar que minha história fosse assim, cinematográfica...

Porém, convenhamos que o final feliz é o que menos interessa, afinal o percurso para chegar até ele é muito mais importante... Analisemos um filme de 90 min: os 20 primeiros são para apresentar a história e os 20 últimos são o bendito final, ou seja, nos sobram 50 min de meio, e o que é isso? São aquelas eternas cenas em que a mocinha sofre, come o pão que o diabo amassou, perde o apartamento, o amado, o cabelo e ganha os quilos a mais, enfim é o purgatório que precede os céus.

E se a nossa vida fosse o filme?
Como sou otimista, nessa vida (é nessa sim, a reencarnação está na moda!) viverei 90 anos. Nesse caso, os 20 primeiros seriam a apresentação da história (nascimento, maternal, escola, faculdade) e, logo em seguida, durante 50 anos (fase em que atualmente me encontro: desempregada, só e com uns quilos a mais), passarei por provações absurdas, crises tremendas, dúvidas e sofrimentos sem fim, para então aos 70 anos de idade, já aposentada, alcance meu final feliz.

Peço perdão aos idosos, mas dispenso o final feliz, deixe que seja o inferno, o purgatório, que eu acabe gorda e desempregada (ainda bem que até lá já me aposentei não é?) afinal já está acabando mesmo, são só 20 minutinhos! Mas que o meio seja bom, ah! que o príncipe encantado surja aos 25, e o emprego dos sonhos antes do 30... Seria tão bom se a gente pudesse mudar o final do filme... Certamente, para quem assiste o efeito seria devastador, mas para quem vive seria uma beleza...

sexta-feira, 30 de abril de 2010

Aventuras...

Mudei o título do blog! Já deu do nome em Francês né?

Afinal, 9 meses que eu (re)pisei os pés na terra brasilis, uma gestação... E agora me bate - de novo, e temo soar repetitiva - uma saudade... Saudade feliz, e não melancólica, mas saudade ainda assim... Da vida simples e despreocupada, dos metrôs e dos ônibus noturnos... Das caminhadas à margem do sena, dos vinhos sem fim, da necessidade de comprar roupas quentes, da vontade de perder o kilos a mais...

Hoje sinto como se tudo aquilo não tivesse passado de um sonho, nem parece que foi quase ontem... E agora me ataca o germe da aventura, sinto falta das mil uma possibilidades de viagens, dos mochilões e dos vôos baratos. Dos trens-balas, e dos ônibus desconfortáveis. Queria poder girar o globo e viajar para um destino qualquer, mas partir... Me sentir forasteira de novo, me sentir corajosa, saber como é não ter mais medo....

Mas, talvez, eu queira apenas fugir: fugir do crocodilo tic tac que me persegue, do futuro que bate à porta - ou da falta dele, do temor do desconhecido que repousa do outro lado. A folha em branco com suas possibilidades infinitas que outrora me maravilhou, transformou-se em buraco negro, implacável e assustador como apenas o desconhecido pode ser... Me sinto como na história sem fim, onde o nada acaba com toda a fantasia, e o pântano da tristeza afoga todos que por lá passam...

Porém, quem sabe talvez, abrir essa porta, e descobrir o que está do outro seja minha próxima grande aventura?

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Despedidas

Faz muito tempo que não escrevo aqui.... Talvez não tenha nada a dizer, talvez tenha coisas de mais a falar que não sei nem por onde começar... Uma quantidade enorme de rascunhos se acumula na minha pilha de postagens, mas nada me parece digno de ir a público...

Mas ainda assim tentarei.

Ultimamente um tema tem sido recorrente em meus pensamentos, é algo que vai um pouco além dos meus medos de graduanda, e da vida pós-universidade... Tenho refletido bastante sobre despedidas. Tá, tudo bem, talvez tenha a ver sim com meus medos da pós-formatura.Me pergunto qual é a hora de desapegar das coisas, das pessoas das idéias, dos sonhos? Como saberei se estou apenas desistindo sem lutar, ou se devo de fato seguir em frente?

Pessoas que outrora foram tão importantes em minha vida, parecem estar distanciando-se dela. E veja bem, eu nunca tive problemas em desapegar, sempre entendi que a vida segue seu fluxo, e as pessoas vão e vem, sem explicação. Mas agora tenho medo de deixar partir aqueles que acreditava serem eternos, mas, talvez, como disse o poeta "que seja eterno enquanto dure". Pode ser que esse sentimento novo, esse temor do deixar partir, do desapegar, seja apenas aquele medo do desconhecido. Pois sim, em breve entrarei em uma nova etapa da minha vida, etapa que desconheço, e que infelizmente não posso ser guiada por ninguém.

Não sei o que há de vir e me percebo, agora, tão só. Na minha ânsia por liberdade perdi confidentes, na minha necessidade de amizades profundas perdi amigos, perdi amores... E agora me vejo só. Com apenas um caderninho e uma caneta onde posso confiar a mim mesma meus pensamentos mais assustadores, e pior, devo confiar em mim mesma para aconselhar-me. E me percebo mirando um espelho em uma sala escura, não vejo nada a minha frente, mas sei que lá estarei eu mesma...

"Na escuridão de minha cegueira,
só vejo os olhos do burro,
estão imóveis e me olham, eu os olho também.
De repente em um dos olhos
vejo escrita a palavra serenidade
e no outro a palavra amor,
mas de repente o burro fecha os olhos
e eu so vejo a escuridão"

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Perguntas

teremos tempo de fazer todas as perguntas?
quais quer fazer?
você quer fazê-las agora?
do que temos necessidade?
como consegui-lo?
como comunicar?

como fazer um teatro que esteja a altura da vida de seus espectadores?
como fazer um teatro quando não sabemos nenhuma resposta quando temos apenas algumas idéias vagas de como fazer a pergunta?
termino com perguntas porque não tenho respostas
mas aquilo que quero são respostas

Julien Beck

que respostas queremos?

será que responderemos a alguma pergunta?





domingo, 21 de fevereiro de 2010

A Vida, modo de usar

Me deparei com esse título na saída de "A Fita Branca", filme belo e cruel que assisti esse fim de semana.

Após um bom capuccino - nada italiano por sinal - e uma boa conversa de garotas, dessa em que só se fala do último homem e das nostalgias carnavalescas, resolvemos dar uma passada na livraria... Nunca é tarde retomar o hábito da leitura pradoxalmente abandonado quando da entrada na Universidade, e agora que me deparo com o fim da mesma me pareceu um bom momento para perseguir antigos e saudáveis hábitos...

Olho tudo com muita atenção, me divertindo com os títulos de auto-ajuda - "coisas que toda mulher inteligente deve saber"- e outras filosofias de privada... Gentilmente folheio os belos e caros livros de artes plásticas e, então, vejo a estante de livros de bolso - não que esses gorduchos consigam se alojar com conforto nesse pequeno espaço da vestimenta, mas seu preço cabe no meu pequeno bolso estudantil que conta com o patrocínio das empresas Mamãe e Papai... Saramago, Umberto Eco... Preciso de algo mais leve... Georges Perec é o nome do autor... Minha professora doida da frança falava muito o nome dele, o título: "A Vida modo de usar".

Uau! Que maravilha, um manual para a vida... Parece que foi feito para mim, com tantas perguntas na cabeça e nenhuma resposta... Nesse momento em que vejo se desfazendo em minha frente aquele título em que me escondi toda a minha vida (tudo bem, dramático dizer toda a minha vida do alto dos meus 22 anos, mas eu faço teatro, poxa!). Sim, em exatos seis meses deixo de ser estudante, e agora José? Meio assustador para alguém que desde os 2 anos de idade freqüenta assiduamente a carteira escolar...

Do maternal para a alfabetização, ginásio, ensino médio, vestibular, intercâmbio, universidade... Sim, estou pensando em protelar um pouco e emendar um mestrado... 20 anos estudando e nunca, nunca me ensinaram o que fazer quando isso acabasse. E agora querem me dar um canudo e dizer: vai ser alguém na vida! Sairei direto para o banco reserva, engrossando as estatísticas, mais uma desempregada.

Não aprendi nenhum ofício, além esse de ser estudante... E agora me pergunto o que fazer, ou melhor, se fiz certo, se não devia ter escolhido algo mais seguro para a vida. Porque não fiz direito como a mamãe mandou? Talvez agora eu estivesse... estudando - pra variar- para fazer um concurso público, e engrossar essa classe social ascendente em nossa sociedade sem perspectivas. Ouço o tic-tac do crocodilo me perseguir, e assim como o capitão gancho quero correr loucamente e ficar presa na Terra do Nunca, virar menina perdida e parar de crescer, brincar de voar, nadar com as sereias, e comer comida invisível e colorida... Mas a vida tem cores diferentes, pequena, e só agora eu começo a vê-las... Lembra que o tic-tac sempre nos persegue na terra do nunca ou na do sempre, e se não podemos voar como o Pan não há outra opção senão enfrentar esse crocodilo feroz, e rezar para que possamos ganhar ao menos uma vez...

Enfim, comprei o modo de usar da Vida, mas sinto informar que não é um manual para os loucamente perdidos como eu, mas me parece ser - do alto do meu primeiro capitulo - um emaranhado de história de outros tantos perdidos como eu... Reconfortante saber que não estamos sós... Não é?

quinta-feira, 18 de fevereiro de 2010

aiai... saudade?

Choraminguei tanto aqui sobre a saudade daquela terra de além mar, e esqueci de lembrar quão apaixonante é o local onde me encontro, ou seria o momento?

Cheguei aqui nostálgica e pensativa, fiz-me crer que voltaria em breve e em seguida afundei em depressão, em banzo de terra alheia, percebendo que o que passara passou... Que Paris não mais teria, que soirées italianas, regadas a vinhos franceses e conversas norueguesas eram apenas uma triste lembrança de alegres dias que ficaram para trás...

Chorei as amizades abandonadas, as festas sem fim, a vida que bouge na velocidade de um trem-bala, os garçons ranzinzas, os frios congelantes, a neve e o outono, as flores e o verão, a percepção do que sou e do que posso ser...

Chateei-me com a realidade inalterada que encontrei, com o calor úmido que reduzia o ritmo, com o preço das passagens de avião, com a ausência do vinho, dos amigos bilíngües, das torres famosas, com a falta de perspectiva no horizonte.

E, então (re?)descobri, a brisa que vem do mar e o sol que nele se põe, o calor que não tem fim, as noitadas regadas a cerveja, o som dos atabaques, a beleza da beleza negra, a vida que corre na velocidade de um barco - e que nos permite apreciar cada instante da paisagem - os elevadores famosos, a folia momesca, os amigos de infância, as amizades eternas...

Percebi que retornar não foi retroceder, mas sim andar para frente... Pois, cresci um pouco mais, descobri um pouco mais de mim na terra que me moldou, com as gentes que me criaram... a tristeza que um dia se apoderou de mim havia dado lugar - como o maracatu quando fulora na seca - a uma bela flor da felicidade sem fim da baianidade nagô. Ainda que os queijos e vinhos da terra da marseillaise tenham me apaixonado, o dendê que circula em minhas veias será sempre eterno...

Talvez o carnaval tenha me transtornado mais do que eu pensava... Talvez tudo isso não passe de saudade e nostalgia daquela semana de suspensão voluntária da realidade... Talvez...

segunda-feira, 18 de janeiro de 2010

Ano Novo, Vida Nova?

31 de dezembro... acordo como em um dia qualquer, e ai alguém me diz: ultimo dia do ano!
Meu deus, que pressão, que animação...

A tarde vou à praia e é na areia que defino minhas metas para o ano que entra - claro que tinha que ser na areia para que o vento leve embora as decisões que o mar não levou consigo - 2010 é ano par, acho que os numeros pares sempre dão mais sorte ...

E cheia de esperança me dirijo à praia na bela noite desse ultimo dia, a lua esta magnifica, levo uma garrafa de champagne embaixo do braço, todos vestem branco exceto eu que, cansada de pedir paz, porto uma blusa com todas as cores do arco-iris, afinal quero de tudo um pouco!

3...2...1 os fogos iluminam os céus, champagnes estouram por todos os lados, todos pulam, gritam se beijam e se abraçam! Vou até o mar e pulo as 7 ondas para a querida Yemanja, melhor não quebrar tradições, se bem não fizer, mal também não fara...

A musica toca, todos dançam a primeira dança de muitas que esse ano novo promete!! E como promete!! Embriagada retorno ao meu hotel, não sem antes fazer algumas confissões de bêbada, pedidos apaixonados, e promessas que jamais serão cumpridas...

1 de Janeiro, saldo da noite anterior: nunca recebi o troco da barraca de roska, pé cortado pelas garrafas de espumantes na praia... compro um band-aid, lavo o pé, chapelão azul na cabeça e um litro de protetor solar depois retorno à praia da virada, tudo lindo, limpo, como se jamais nenhuma grande virada tivesse acontecido ali... Bom dia 2010!