domingo, 21 de fevereiro de 2010

A Vida, modo de usar

Me deparei com esse título na saída de "A Fita Branca", filme belo e cruel que assisti esse fim de semana.

Após um bom capuccino - nada italiano por sinal - e uma boa conversa de garotas, dessa em que só se fala do último homem e das nostalgias carnavalescas, resolvemos dar uma passada na livraria... Nunca é tarde retomar o hábito da leitura pradoxalmente abandonado quando da entrada na Universidade, e agora que me deparo com o fim da mesma me pareceu um bom momento para perseguir antigos e saudáveis hábitos...

Olho tudo com muita atenção, me divertindo com os títulos de auto-ajuda - "coisas que toda mulher inteligente deve saber"- e outras filosofias de privada... Gentilmente folheio os belos e caros livros de artes plásticas e, então, vejo a estante de livros de bolso - não que esses gorduchos consigam se alojar com conforto nesse pequeno espaço da vestimenta, mas seu preço cabe no meu pequeno bolso estudantil que conta com o patrocínio das empresas Mamãe e Papai... Saramago, Umberto Eco... Preciso de algo mais leve... Georges Perec é o nome do autor... Minha professora doida da frança falava muito o nome dele, o título: "A Vida modo de usar".

Uau! Que maravilha, um manual para a vida... Parece que foi feito para mim, com tantas perguntas na cabeça e nenhuma resposta... Nesse momento em que vejo se desfazendo em minha frente aquele título em que me escondi toda a minha vida (tudo bem, dramático dizer toda a minha vida do alto dos meus 22 anos, mas eu faço teatro, poxa!). Sim, em exatos seis meses deixo de ser estudante, e agora José? Meio assustador para alguém que desde os 2 anos de idade freqüenta assiduamente a carteira escolar...

Do maternal para a alfabetização, ginásio, ensino médio, vestibular, intercâmbio, universidade... Sim, estou pensando em protelar um pouco e emendar um mestrado... 20 anos estudando e nunca, nunca me ensinaram o que fazer quando isso acabasse. E agora querem me dar um canudo e dizer: vai ser alguém na vida! Sairei direto para o banco reserva, engrossando as estatísticas, mais uma desempregada.

Não aprendi nenhum ofício, além esse de ser estudante... E agora me pergunto o que fazer, ou melhor, se fiz certo, se não devia ter escolhido algo mais seguro para a vida. Porque não fiz direito como a mamãe mandou? Talvez agora eu estivesse... estudando - pra variar- para fazer um concurso público, e engrossar essa classe social ascendente em nossa sociedade sem perspectivas. Ouço o tic-tac do crocodilo me perseguir, e assim como o capitão gancho quero correr loucamente e ficar presa na Terra do Nunca, virar menina perdida e parar de crescer, brincar de voar, nadar com as sereias, e comer comida invisível e colorida... Mas a vida tem cores diferentes, pequena, e só agora eu começo a vê-las... Lembra que o tic-tac sempre nos persegue na terra do nunca ou na do sempre, e se não podemos voar como o Pan não há outra opção senão enfrentar esse crocodilo feroz, e rezar para que possamos ganhar ao menos uma vez...

Enfim, comprei o modo de usar da Vida, mas sinto informar que não é um manual para os loucamente perdidos como eu, mas me parece ser - do alto do meu primeiro capitulo - um emaranhado de história de outros tantos perdidos como eu... Reconfortante saber que não estamos sós... Não é?

2 comentários:

  1. eu fiz direito e meu sonho era ter feito teatro...

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  2. nunca sabemos que sonho sonhar...que caminho trilhar, mas sempre caminhamos e caminhamos, sem saber onde vai dar.

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