terça-feira, 17 de dezembro de 2013

E quando bate a meia-noite?

Quem já ouviu falar em relógio biológico?

Na minha infância o relógio biológico era o que te fazia levantar da cama sem despertador, acordando na hora que seu corpo pedia e dessa forma passando o resto do dia feliz, leve e disposta.

De repente você cruza a linha que divide a adolescência da adultescência, não que eu me sinta uma adulta aos 25 anos dependendo do paitrocínio mensal que me sustenta em terras francesas - e ele começa a fazer mais parte da sua vida do que nunca. Por vezes comparado com o boi da cara preta que assusta as criancinhas: o relógio biológico vem aí! Pega essa menina que tem medo de careta!

Mas, eis que em um belo dia de outono ou primavera (a depender do seu hemisfério) você retorna para terras familiares, pelo breve instante de uma semana, e há toda uma expectativa em torno das suas conquistas. É aí que o conceito de relógio biológico realmente muda, pois agora ao invés de ser seu horário natural de abrir os olhos e sair da cama, transforma-se, ele mesmo, em irritante despertador que te obriga a sair dela às 6h ou fugir do baile à meia-noite.

Seus muitos amigos já ouviram esse badalo e correm com suas abóboras e camundongos. Sua tia capaz de escutar não só o próprio alarme biológico, mas como de prever o alheio também, olha para você com um leve sorriso condescendente: você diz isso agora minha filha mas quando o relógio biológico bater... (enquanto bate freneticamente no seu próprio relógio, movido a bateria por sinal).

A madrinha, que de fada tem muito pouco, dá o pontapé inicial naquela conversa que te faz pensar que o alarme apitou e você, querida, colocou em modo soneca.

- Está namorando, minha filha? indaga-me muito desinteressadamente. Que nada, tia. Respondo querendo gerar ainda menos interesse. 

(pausa dramática) ...

- E você tem quantos anos mesmo? ... vinteecinco

(pausa mais dramática, seguida de olhar de pena e mudança brusca de assunto) ...

Talvez eu esteja enganada e ela seja sim a  personificação da fada madrinha à la Cinderela, que, depois de te dar todos os elementos para a diversão, vem te avisar que a festa só pode ser curtida até meia noite... pois ao badalar do relógio você vira abóbora e que príncipe vai querer comer abóbora não é? (um príncipe vegetariano, penso eu). E é à meia-noite que sua carruagem murcha, seu vestido se torna um avental, e seus cavalos, meros camundongos. É esperando o badalar do relógio que fica a pobre Cinderela, a festa toda, na iminência desse som que avisa que festa não acabou, mas, me desculpe, você não está mais apta a participar dela. Afinal uma vez apitado o relógio biológico nos transformamos em gatas borralheiras e toda a mágica se esvai...

Pobre Cinderela, a quem não ensinaram o botão soneca, para fazer dormir - de preferência em sono eterno - o irritante badalar do relógio, e quem sabe permiti-la a curtir o badalo da festa. Sem bicho papão, sem sapato de cristal nem nada, saboreando lentamente o seu doce de abóbora...





Ainda bem que meu relógio veio sem bateria...

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