segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

O príncipe encantado...


A gente cresce assistindo a desenhos animados, contos de fadas, com sapos que viram princípes, mendigos que viram príncipes, feras que viram príncipes, se bobear até pedra tá virando principe só para fazer a felicidade das mocinhas de plantão. Ingênuas, somos levadas a acreditar que animais, insetos e objetos inanimados, transformam-se naquela figura máxima do amor romântico: o príncipe encantado.

A mocinha está feliz e despreocupada, normalmente cantarolando nas florestas, lendo nos vilarejos, cozinhando e estudando, nenhum membro da realeza povoa seus sonhos. E então deus ex machina entra em ação(ou diabo ex machina nesse caso), a mocinha é jurada de morte, envenenada por uma maçã, atormentada por irmãs postiças, ou ainda cai em sono eterno. Oh! e agora que fazer? E eis que do horizonte surge um jovem bonito e galante, montado em um cavalo branco, e com um beijo do amor eterno salva a pobre e indefesa vítima de  sua triste sina, e juntos cavalgam ou voam rumo ao infinito do happily ever after! 

Porém o que esquecem de nos contar é que fora das telas a história tem outro sentido, por experiência própria sei que é assim:

Eis que surge o príncipe encantado, feliz e sorridente a mocinha se perfuma, se pinta, sobe num salto alto e vira frequentadora assídua do depilador. Juntos cavalgam no cavalo branco rumo ao felizes para sempre!

- E agora, o filme acabou?

- Não.

No caminho daquele sol no fim da estrada dourada (o felizes para sempre) o príncipe vira fera, vira sapo, vira até mendigo e a gente começa a desejar que vire pedra. A vítima, ingênua mocinha de outrora, vê as maçãs vermelhas derreterem em venenos eternos, o surgimento das rivais (vulgo irmãs postiças). Na espera de que o sapo volte a ser príncipe cai em sono eterno. A pobre sofre, come o pão que o diabo amassou, não entende a vida pós-final feliz... 

Olha pela janela da sua prisão do felizes para sempre: os jardins, os pássaros, as maçãs vermelhas, os tapetes encantados, as bibliotecas... A heroína (que já fora mocinha e virou vítima) coloca então sua capa vermelha e sai cantarolando à procura do lobo-mau, príncipe nunca mais!



quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Sobre como esvaziar armários...

 O último mês... Bem que a canção diz que "amanhã já é janeiro para quem partiu em agosto" imagina pra quem partiu em setembro?

Tanto já aconteceu desde que aqui cheguei... 

Foi com o coração apertado que pisei os pés nessa terra, medo de seguir em frente e trilhar o caminho que me separava de seres queridos... Medo de saber o que me espera, e medo de não saber absolutamente nada... 

Paralisada fiquei, o corpo aqui, o coração lá. Eu que sempre adorei esvaziar armários e livrar-me do que me abarrota, agora abraçava agora o mesmo armário, assustada, estava cheio de coisas lindas e caras, mas de que serviriam em um clima tão diferente... 

Não! Me recusava a abrir a porta, com medo de que algo caísse, caminhava assim arrastando um item tão pesado e com pouca utilidade, me sugeriam abrir espaço para os novos itens que chegavam. Me diziam que não cabia tudo, e eu afirmava que eu dava um jeito, meu armário é igual a mala de Mary Poppins!

Mas eis que o clima muda, chuvas vem, sóis se põem, e tudo que é madeira eventualmente estraga... Agora tão pesado, ele começa a se desmontar, olho para trás e vejo que uma porta ficou pelo meio do caminho, em seguida outra... 

Posso ver seu interior, objetos velhos, puras recordações às quais nos apegamos com medo de construirmos outras, lado a lado com os novos objetos adquiridos nessas novas andanças... Olho para frente e vejo quão longo é o caminho, olho para os meus itens de recordação, algo tem que ficar para trás ou ficarei eu!

Começo então a redescobrir o prazer de armários vazios, cheio de espaço e aquela vontade gostosa de preenche-lo com tantas outras coisas, que pode até ser que fiquem pelo caminho logo ali na frente, mas a graça é adquiri-las! Reorganizo-o, parafuso as portas de volta, empilho tudo aquilo que é velho, usado e empoeirado. O caminho agora é tão mais leve...

"A gente ri, a gente chora e joga fora o que passou
a gente ri a gente chora e comemora o novo amor..."